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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Distâncias imaginárias

Ele não tinha nome, mas ninguém tinha. Ninguém mais sabia de nada. O conhecimento humano já não era mais nada além de uma sombra. O menino não tinha idade. Não sabia os números. Sentava sozinho e era como ficava o dia todo, todos os dias.

Dormia de olhos abertos. Acordava sem perceber que havia dormido. E, nas olheiras, denunciava um sono muito maior do que o que sentia. Dentro de si, carregava mais lembranças do que gostaria de dizer. Mas não dizia nada. Tinha medo de fechar os olhos, de falar, do que poderia escapar.

Era levado, cada vez mais, ao Distante. Um mundo sem cor, transparente, bioluminescente. Lá, era assombrado por todo tipo de monstros. Em noites normais, ele podia se esconder nos livros, mas frequentemente ele era perseguido.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Prosa caótica

Me perdi aos dezessete anos
Perdido como nunca estive antes
Renegado entre almofadas
Choro minha alma sem palavras
Resoluto, mantenho minha obstinação
O desejo de ser feliz se apaga
Conforme enxugo as lágrimas
Determinado a esquecer
Lembro de todos os destinos
Das viagens que fiz ao longo
Numa rota sem direção ou sentido
Torta, andando em círculos
Procurando um destino comum
Meu cotidiano, o horror mundano

terça-feira, 8 de abril de 2014

Prosa sem nome número 1

Sobre as mulheres, há pouco que possa ser dito. Não as conheço tanto quanto gostaria. De línguas sujas e palavras feias, conheço tanto quanto. Sou inexperiente. Vivo em descanso, deitado, aproveitando do pouco que conheço. A vida me acontece de maneira simples e desocupada. Eu abro a janela, ouço os pássaros, sinto as brisas do eterno verão nordestino, sinto o sol quente na minha pele. Nem muito, nem pouco. Esperando que a vida aconteça, escrevo sobre meus sonhos, desejos e invenções. Não sou engenheiro, tampouco o poderia. Meu conhecimento de física e mecânica se restringe a saber de sua existência. Me olho no espelho e me reconheço, mas não sei quem sou. A personalidade que eu julgava ter, desaparece mais a cada dia que passa. O egoísmo que tanto carreguei na ponta da língua já escorrega para meu interior. Engulo como o orgulho que, antes, costumava gritar aos quatro ventos. A ânsia é o que sobe, em contrapartida, me mostrando que nem mesmo meu corpo aguenta. O que sou é uma forma tremeluzente e fora de foco. Uma imagem que se assemelha ao que eu costumava ser, mas que se define entre outras palavras, outros pensamentos, outras consciências. Os tabus deixam de sê-lo conforme penso em alternativas para quebra-los. Os costumes não são nada além de lendas. E eu me sinto confiante o suficiente para sair às ruas e gritar meu nome. Este ainda não me abandonou. A essência do que sou se define nele. Quando o digo, penso em tudo aquilo que sou. Não importa se mudei. Meu coro permanece neutro. É humano, afinal. Cheio de instintos animais diversos. Um deles é o de procriar. Sinto em toda minha totalidade. Mas não sinto vontade de estar em uma relação. Relacionamentos são complicados. Entendo muito pouco deles na prática, mas sou mestre em teorias. Quando é você no holofote, tudo muda. Errar é humano. E não há melhor forma de provar isso quanto nesses momentos. Amizades são relacionamentos de união. Você pode se separar quando quiser, apesar de não procurar. Se não funciona, você separa. Ao contrário de relacionamentos amorosos, que são os que você tenta fazer funcionar. Eu não participo deles por esse motivo. Não encontro ninguém que consiga funcionar. Gosto de estar sozinho, me olhar no espelho e me perguntar quem sou, perguntar minhas origens e meus destinos. Escrevo quando sinto que preciso divagar sobre isso. É meu ofício. Não sei fazer outra coisa. As pedras no meu caminho são empecilhos que me machucam quando me corto entre palavras ásperas de auto-crítica. Sou quem preciso ser. Não me arrependo disso. Sou o filho que meus pais sempre quiseram. E, disso, eu me arrependo. Todas as coisas que tenho vontade de fazer passam por um julgamento complicado. Meus pais aprovam ou não. E, a partir daí, minha crítica é similar. Minhas opiniões e convicções são apenas réplicas de modelos ultrapassados do século passado. Às vezes, eu me pergunto o que isso quer dizer. Sou o legado daquilo que uma vez se foi perpetuando-se entre os genes da obediência. Nunca faço o que quero. Só o que esperam de mim. Isso me magoa. Me mata. Me mostra como o sujeito fraco que não sabe o que quer porque depende da opinião alheia para tal.

sábado, 29 de março de 2014

Ossos do ofício: novos projetos

Algumas coisas podem ficar sem ser ditas. infelizmente, sou eu aquele que deve dizê-las. as palavras são reflexo da condição humana. existem e resistem ao longo do tempo, sempre se reinventando. é tarefa do poeta cronista relatar uma com a outra. e, assim, seguir.
A vida começa com moléculas que dizem sim umas às outras. sempre um sim. isso é Clarice Lispector, não me encare mal. ela que o dizia. desde que o universo é universo, existe um sim. e se não existisse? bom, ela não estava lá para ver isso. nem eu. nem ninguém. anti-matéria, quem sabe?
Assunto controverso. ninguém sabe o que é. só os físicos. e ninguém sabe como usar. mas a pergunta mais importante é como fazer. é que se entrar em contato com matéria, explode. tipo fogo e combustível. entende? não? nem eu. muitos não entendem. a maioria, pra falar a verdade.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Alívio ou dor?

Toda história, começa com seu próprio começa, seja um meio, seja um fim. essa, em particular, começa com a morte de um indivíduo. na jornada da vida, o fim foi o que ele menos esperava, embora fosse sua maior certeza.
O sangue em sua camisa secou rápido. hemofílico. o sangue não coagulou. assim, ele morreu de hemorragia. a faca ainda estava lá, em seu abdômen, como um símbolo. a morte vem para todos, mas chegou primeiro para ele.
O sorriso em seu rosto não denunciava os horrores que ele havia presenciado. mostrava apenas que seu último momento havia sido genuíno. provavelmente, nem sabia que a morte o atingira. os olhos fechados diziam isso.
Entre sussurros e sonhos cheios de alegria, ele se foi sem nem ao menos saber como eram os portões. chegou apressado. sem dizer olás ou distribuir simpatias. chegou logo ao seu destino. não quis saber de mais nada. nem precisava. seu paraíso o aguardava.
Na terra, porém, a trama se complicava. enquanto a morte do indivíduo, para ele, resultava na felicidade eterna, outros sofriam. seus pais, sua esposa, seus filhos, seus amigos. todos reagiam de uma forma diferente. cada uma possuía suas características especiais.

terça-feira, 25 de março de 2014

Um sonho de comunidade

Que todos os exércitos
venham em meu favor.
Pois sou o único e verdadeiro
líder das tropas ocidentais.
Venham me ajudar
a derrotar os tiranos
que aprisionam nossas mentes.
Provem do veneno e percebam
o mal que ele faz
apesar do gosto doce que traz.
Venham lutar contra o que é errado
em favor da justiça
do amor
e do perdão.
Coisas esquecidas pelo mundo,
pela vida
e pelos injustos
que tanto fizeram.
Venham hoje em busca do nosso nome:
LIBERDADE
e que não seja dito em vão
pois nós não somos quem você pensa.
Somos o povo, somos a riqueza,
somos a verdade.
E hoje nós declaramos guerra
contra tudo que não é nosso.
Todos os sentimentos ruins e egoístas
que surgem em desunião.
Venham em meu favor
e liderem comigo
a guerra do fim do que é meu
do que é seu.
Decretemos uma lei
do que é NOSSO.

quinta-feira, 13 de março de 2014

as cores da vida.

cinza. os prédios se erguem ao passo que o sol se move. um trajeto diário, pessoal e esclarecedor. dia após dia, semana após semana, mês após mês e ano após ano. é em nome do eterno que se dedica tal jornada. entre suspiros e sussurros, tanto fica no papel; as palavras somem em meio tantos sentimentos que se escondem atrás de cores e sonhos. os portais da imaginação discorrem entre mapas e teoremas da ideia humana.
você está no ponto A, segue como um, na linha do tempo, para o ponto B, mas quando chega ao ponto C, você já está transformado em outra faceta de si mesmo. ventos espiralados correm através das árvores e destroem cada membro da natureza composta, a vida que se ergue, a vida que continua, mas aquela que cai, todos os dias, ainda lembrança da jornada dedicada ao eterno.
o tempo vai, mas volta, tão logo os relógios percebem um erro, entre tantos pensamentos. o desejo age como motivador essencial da vida.
a linha da vida é como um agente para sequenciação do tempo. a literatura moderna o define assim, mais ou menos. não há muito a ser dito sobre o assunto. os teóricos apenas o imaginaram, mas as paredes das dimensões que nos esmagam no plano são finas como ar puro. a fumaça que enevoa nossos pensamentos é como um muro, grosso e impenetrável. assim, não podemos nos elevar e fugir.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A redenção do pervertido

Nunca sofri de um mal que não pudesse controlar. Gripe, infecção intestinal, câncer. Alguns males são maiores que outros. Alguns infinitos são menores que uma porção inteira. E alguns amores não servem pra nada na nossa vida.

domingo, 12 de janeiro de 2014

A justiça é cega, mas ainda pode te dar uma rasteira

Quando você imagina que nada pode piorar, é quando piora. A vida começa para todo mundo. Para mim, foi aos cinco anos. Foi quando tive consciência das coisas. Não me lembro de nada antes disso. Alguns flashes, provavelmente. Minha mãe, uma mulher negra, trabalhava em uma casa, como empregada doméstica. Meu pai também trabalhava, então não tinha condições de cuidar de mim, em casa.Eu sempre ia com minha mãe para o trabalho. Lá, tinha uma criança que eu gostava de brincar. Era o filho da dona. Ele era diferente de mim. Eu era tímido e introspectivo. Branco, de olhos e cabelos claros, e rico, claro. Ele era altivo, esperto, falante e muito extrovertido. Em outras palavras, um safado. Ele fazia as coisas erradas e botava a culpa em mim. Sujava o chão, quebrava copos etc. Minha mãe não se importava porque sabia que era ele quem fazia isso tudo.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Desapego

Engraçado é o mínimo que se pode dizer sobre a vida. Engraçadas também são nossas paixões. O ser humano é um bicho esquisito e nojento. Mas, o que é pior: a visão que temos das coisas. Enquanto estamos apaixonados, acreditamos que o objeto é o mais lindo do mundo. Enquanto estamos inebriados com isto, não conseguimos nem ouvir direito. Até o mais agudo dos bocejos consegue parecer uma ópera inteira. A verdade é que mais engraçada ainda é a superação. Quando isso acontece, a gente já não consegue olhar pra cara da pessoa sem nojo. A voz, então? Parece um bando de gatos sendo esfolados. Realmente, a mente humana mascara muita coisa. Principalmente se tiver interesse nisso. É o que eu gosto de chamar de "tornar a transação mais fácil". Se isso não acontecesse, estaríamos presos a pessoas por quem sentimos náuseas. É verdade. Eu agradeço, então, ao meu cérebro por tudo o que me fez passar. Porque se eu a visse como é, talvez não teria sentido tal maravilhoso sentimento. A mais pura verdade: "o cérebro engana pra ajudar". Citando meu amigo de infância, Tom Zé: "eu to te confundindo pra tentar te esclarecer"; posso perceber que meu cérebro, amigo leal, não fez mais que sua obrigação. Hoje, sim, eu entendo que não existe amor sem um pouco de mentira e enganação. Se existissem, talvez a humanidade nunca tivesse se reproduzido a esse ponto.
Viva e deixe morrer

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O sebista

   A vida, como um todo, é engraçada. Trágicas mesmo, são as ocupações. A vida do sebista é tragicômica. Para ele, é trágica em quase todos os aspectos; cômica, porém, para quase todos os outros. Às vezes, eu acho que se eu não tivesse alguma história de vida, choraria todos os dias com as desgraças que me acontecem. Felizmente, dia após dia, eu aprendo a rir.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Inconstante desprazer do existir

   Acho que ninguém perceberia se eu desaparecesse. Talvez eu esteja sendo um pouco individualista ou só egoísta, mas não acho que alguém perceba minha existência. Os dias já não acontecem com a mesma velocidade. Tudo parece demorar uma eternidade. O tédio me permeia como uma infecção incurável.

sábado, 14 de setembro de 2013

domingo, 11 de agosto de 2013

Relatos de cama

Estava em casa assistindo televisão quando me ligou. Corri para atendê-la. Minha esposa estava tocando o violoncelo, no quarto. "Alô", disse com a voz grave, enquanto eu atendia. "Era engano, querida", gritei para que ouvisse. "Você sabe quem é?", disse a voz do telefone. "Não", respondi, com o coração já acelerando. "Sabe, sim; sou eu... Estou no lugar de sempre, te esperando... Você vem?", disse a voz sedutora. Um número X de mulheres apareceu em minha mente. Mas, restringi ao número Y que não me odiava que poderia fazer esta ligação...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Quem conta um ponto, aumenta um morto

Pra falar a verdade, existem poucas coisas que eu faria nessa vida. Sonho com o dia em que poderei ser livre. Mas, enquanto isso não acontece, vou levando a vida devagar. Talvez, quem sabe, o amor não acabe. Mas, a tendência é que isso aconteça, conforme tudo o mais.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A herança

Eram três. As irmãs possuíam nada em comum além da linhagem. Eram Maria, Teresa e Elisa. Uma católica, outra evangélica e, ainda, uma espírita, respectivamente. Não se viam há trinta anos. Até então, uma desavença familiar as havia separado, sem maiores discussões. Depois da morte dos pais, a briga pela herança fragilizou ainda mais os laços familiares. Suas vidas prosseguiram como se nunca tivessem se conhecido. Elisa, a primeira, teve dois filhos, Rita e Tiago. Maria, a segunda, teve três, Samuel, Rafael e Gabriel, trigêmeos. Teresa, porém, não podia ter filhos. Amargurada, se tornou uma devota ferrenha, onde nada lhe dava mais consolo que Deus. "Só Ele sabe de todas as coisas", ela repetia para si mesma, todos os dias, ao acordar.

sábado, 6 de julho de 2013

Melancolia

Tudo na cidade funcionava em perfeita ordem. Até que se viu, brilhando no céu, a uma grande distância, um monstro que se aproximava.

A mãe penteava o cabelo da filha, preparando-a para dormir. O pai, observava com amor e carinho. E o irmão ainda estava acordado, estudando. As provas do ensino médio não eram fáceis. E a avó já estava cochilando no sofá, enquanto passava a novela. E o avô, morto e cremado, estava em uma urna banhada a ouro, onde observava toda a família.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Bem-vindo ao circo

Eu queria entender todo esse fuzuê que todo mundo faz quando a gente quer silêncio. Será que é verdade? A dor me consome os miolos enquanto tento pensar numa maneira inteligente de sair daqui. E gasto mais energia tentando me encolher, numa pose constrangedora, do que sair dali. Mas, será que pedir silêncio não resolve? Acho que as pessoas não iriam me ouvir. Acredito que, sinceramente, tudo o que eu poderia fazer é me fazer ouvir de outra forma. Mais barulho resolve? Não sei. Vamos tentar.
[...]
Não sei se adiantou. Algumas pessoas pararam, olharam para os lados, viram minha dor, se simpatizaram e pediram silêncio. Outras, passaram por estes mesmos estágios, mas ao perceber que o silêncio não reinava, decidiram voltar a fazer barulho. Se deram por vencidos. Realmente, faz sentido. Se não posso com eles, por que não me juntar a eles?
[...]
Não consegui. Minha dor de cabeça está forte demais. Está me cegando. Meus músculos doem. Não consigo me levantar. Está me sufocando. Uma pergunta ecoa minha dor, alisando-me os músculos e entorpecendo a carne. Será que a bagunça começou com minha dor ou minha dor começou com a bagunça, quando eu percebi que ela não me fazia bem? Acredito que eu poderia sufoca-la, se arranjasse mais voluntários. Mas, percebo que todos se conformam que minha dor não é o suficiente para mudar algo que me parece tão mal...

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Os primos

Lavo meu rosto, pela manhã, todos os dias, antes de sair para fazer minhas refeições. Hoje, foi um dia diferente de todos os outros. Olhei-me naquele espelho e concluí o que temia mais. Estou envelhecendo. O tempo passa para todos, inclusive para mim. Que saudade da infância, que já não volta mais, quando eu brincava com todos os meus irmãos e irmãs. Estão mortos, sim. Não sei como aconteceu. Só foi. De repente, assim. Um passe de mágica. Apanhei meus óculos e pus no bolso. Não precisava deles para nada a não ser aquilo que me estava perto. Sim, o último sinal da idade, não é mesmo? Então, coloquei meu casaco e saí. O dia estava frio, como se fosse inverno, mas era só o outono que batia à nossa porta. Eu e meu marido vivemos sozinhos, sem crianças. Sempre pensamos em adotar, mas ela seria vista com maus olhos e decidimos que lá nunca seria um bom lugar, pelo menos não em nossa época, para criar uma criança. Veja bem, é que não somos casados. É ilegal que dois homens o façam. Mas, vivemos juntos, sim. O nosso pretexto é que somos primos. Mas, tenho certeza que muitos percebem que somos amigáveis demais. Dois homens adultos, um loiro e outro moreno, habitando o mesmo teto, e andando de mãos dadas. Ou são homossexuais ou, simplesmente, pecadores incestuosos.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Três vezes sufocadas

   Os olhos. São sempre os olhos, não é? As pernas se locomovem e os braços servem de utensílios. Mas, e os olhos? São apenas portas da alma. As últimas defesas do corpo humano.
   A cozinha estava vazia acerca de população útil. E a festa acontecia sem perturbações de maior ordem. A polícia não ousaria penetrar. E eu não conseguía me sentir bem comigo mesmo. Eu estava abrindo uma garrafa de vinho quando ela veio falar comigo. Seu sorriso falava alto que ela tinha vontade de se entregar ao primeiro que aparecesse. Por coincidência, este era eu, lembrando que ela acabara de sair do banheiro.
   Seguimos pelo corredor ao que me pareceu duas vidas. Vivi e morri quantas vezes possíveis. E calculei quanto tempo eu teria até que o vinho fizesse efeito. Eu queria me lembrar daquela noite. Mas, tenho certeza que ela não. Chegando lá, despejei o conteúdo em uma longa taça, que ela bebeu furiosamente.
   Vigorosamente, arranquei suas roupas, com meus dentes, e fiz daquela noite uma memorável para ambos. Sua calcinha dizia "Hester", me lembrando de um coelho que eu possuía quando criança. Nostálgico, toquei seu pescoço. Eu podia sentir o sangue pulsando por suas veias.

Minhas [des]ocupações mais valorosas...