Entorpecido por cada gole, me fiz homem na
hora em que a beijei nos lábios. Do mais doce mel, não senti nada de
arrependimento. Já sentira isso antes. Foi com tal graça que beijei teus seios,
mas não senti nada além de excitação. Toquei na tua vulva com meus dedos e, no
vaivém, me senti mais homem que nunca. Mas isso não durou.
Olhei para o lado e
não vi mais ninguém. Estávamos sozinhos ali, naquele momento. Éramos só eu e
ela. Mas eu não me sentia capaz. Enrijecido, pensei em colocá-la de quatro,
naquele momento, mas não me foi permitido. Ficamos só naquilo. Beijos, abraços
e movimentos tão frenéticos que acordaram fibras de mim que eu não sabia que
existiam.
Mas eu já sabia qual era seu gosto, suas procedências, seus gostos e
limites. Não era nada de novo. Não era o que eu queria. Era o que eu tinha
disponível numa mente entorpecida, ébria, tomada pelo sabor transparente de uma
água intoxicada. Eu não era eu mesmo. Eu me sentia tomado pelos hormônios que
me acordavam de um sono que, há muito, me fazia hibernar. Eu me sentia
desperto, mas nada alerta. O cérebro que eu tanto sentia orgulho não me serviu
de nada e caí, mais uma vez, em garras que me prenderam até o sol raiar.
Nessa
noite, eu me vi preso em partes de mim que não eram meu eu normativo. Estou
confuso. Existem lapsos em minha memória. Mas sei que não consigo mais me olhar
no espelho sem lembrar que traí cada convicção do meu corpo. Momentaneamente, fui um homem feliz.
Confuso,
acordei no dia seguinte vendo-a deitada ao meu lado. Encurralado, me senti
preso e abismado. Perguntei-me o que poderia fazer, mas nenhuma resposta me foi
conclusa. Ainda hoje não sei o que aconteceu. Ainda não sei o que poderia ter feito.
E ainda me culpo por ter caminhado ultrapassando os limites anteriormente
impostos. Mas nada me deixa mais triste do que lembrar que tudo poderia ter
sido melhor se eu não a tivesse encontrado, naquele estado.
Mas foi ela quem me
provocou, me puxou para um canto, fez de mim o homem que sou e se divertiu com
o que se passou. Não sei o que fazer, nem se posso reclamar. Sou humano e ainda
posso errar. Aquilo foi tortura e, mesmo assim, não tem nome. Hoje, sinto só
desprezo. Não
consegui olha-la nos olhos e sentir qualquer coisa a não ser esse
arrependimento.
A agressividade com que escrevo essas palavras não tem sentido. Ela
tentou me colocar contra a parede, crucificar-me pelos meus pecados. Mas não fui
eu que menti descaradamente. Não fui eu que enganei para tentar ficar por
cima. Não fui eu que mentiu sobre sua aparência para tentar diminui-la. Eu
que sofri com todas essas coisas. É engraçado como sempre lidei com ela tal
qual uma vítima quando, na verdade, fui eu que sofri de mentiras contadas sem
qualquer propósito.
Magoei-me pelo que me foi dito diretamente quando, tempos antes, magoei pelo que foi dito pelos outros. As fofocas podem acabar
qualquer coisa e, com certeza, elas teriam sido melhores do que
qualquer mentira que eu possa ter ouvido desses lábios finos, nesse rosto
redondo, nesse corpo voluptuoso.
O teu seio já não me faz falta, tua vulva,
também não. Assim como ao teu lábio, quero distância dessa mente doentia que
insiste em me aparecer na lembrança, em forma de nostalgia. Sempre que eu te
vir, procurarei evitar. Pois não sou obrigado a sofrer em teu nome, quimera dos
meus pesadelos últimos.
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