sábado, 29 de março de 2014

Ossos do ofício: novos projetos

Algumas coisas podem ficar sem ser ditas. infelizmente, sou eu aquele que deve dizê-las. as palavras são reflexo da condição humana. existem e resistem ao longo do tempo, sempre se reinventando. é tarefa do poeta cronista relatar uma com a outra. e, assim, seguir.
A vida começa com moléculas que dizem sim umas às outras. sempre um sim. isso é Clarice Lispector, não me encare mal. ela que o dizia. desde que o universo é universo, existe um sim. e se não existisse? bom, ela não estava lá para ver isso. nem eu. nem ninguém. anti-matéria, quem sabe?
Assunto controverso. ninguém sabe o que é. só os físicos. e ninguém sabe como usar. mas a pergunta mais importante é como fazer. é que se entrar em contato com matéria, explode. tipo fogo e combustível. entende? não? nem eu. muitos não entendem. a maioria, pra falar a verdade.
É esse tipo de coisa que move o mundo. assuntos que ninguém sabe ao certo como funcionam, mas que revolucionam a condição humana entre a roda e a ferrari. um mecanismo simples e uma máquina de luxo. isso é o que meus amigos dizem. a engenharia é a ferramenta do progresso.
Por mais que eu quisesse acreditar que isso é uma mentira e o que move a humanidade são as próprias ciências humanas, que estudam o que eu gosto, desde economia até mesmo sociologia ou psicologia, eu não posso afirmar isso categoricamente e, no fim das contas, quem faz evolução tecnológica usa para algum fim, cabe a nós, porém, saber administrar.
Os humanos são animais ocos e sem vida que se dedicam em toda uma existência a se superar pela glória de descobrir, anos depois, que o progresso é inevitável, dado que seres humanos pensam parecido, tem os mesmos vícios e as mesmas concepções de mundo, mostrando que se A não tivesse descoberto, B o teria feito, e assim sucessivamente até os confins. do mundo.
Feitos sem cor, os seres humanos se desenvolvem em meio os seios de suas mães, nutritivas bolsas de alimento não processado que suprem todas as necessidades, inclusive aquosas, pelos primeiros meses de vida, sendo levados a ser o que são: amantes do que lhes fornece calor.
Esse aí, porém, se demonstra de muitas formas; no meu caso, é o prazer de me ver no espelho, me reconhecer, procurar minhas respostas e, por incrível que pareça, esquecer as perguntas só para que possa não só me perguntar de novo, mas também para que possa formular novas.
Cada um tem seu ofício, seja qual for. o meu é vir aqui escrever sobre o que penso. o dos outros escritores, é problema deles. afinal, nenhum escritor escreve igual a outro. cadê a individualidade? vermes que me entram pelos lobos em buracos cavados por si mesmos se alimentam do meu cérebro e me tornam outro.
Pergunto-me quem são e o que querem, mas eles não respondem. fazem parte de mim, mas não se identificam como tal. gritam meu nome, mas não respondo porque sei que não falam comigo. são como as paixões da minha vida, que tão logo abandonei quando percebi que o passado só falava, mas não respondia, assim como eu a ele.
Assim como deve ser aos inventores. aquelas que não deram certo clamam pedindo uma revisão, reinvenção. mas acontece que ela não pode ser feita. aprimorada, quem sabe? combinada? com outras. o projeto requisita isso. não adianta chorar.
Como se desfazer de ideias tão promissoras? às vezes, olho para rascunhos antigos e me pergunto o que fazer com eles. se eu os apagar, será que posso vir a ter ideias tão boas quanto? e se lá os mantiver, não me prenderei a eles me impedindo de visitar aquilo que for novo em minha consciência?
As dúvidas são os ossos do ofício. no meu caso, me encontro indeciso, apesar de saber o que devo fazer. devo escolher aquilo que me magoe menos. devo pensar em mim, em primeiro lugar. o que eu quero realizar e o que eu posso fazer. ninguém vai me perseguir por pensar em mim. porque, no fim das contas, só eu sei o que eu passo.

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