sábado, 27 de setembro de 2014

Poeminha de quem acorda

Se acaso uma porta se abrir
Não me deixe passar
Me deixe contemplar
A escolha de ir ou de ficar
Pensar se devo ir e me lembrar
Ou ficar e imaginar

Se acaso uma janela se abrir
Não me deixe por ela olhar
Me deixe invejar os que estão a passar
Pensando se devo viver
Ou só imaginar

Se acaso a vida me acordar, porém,
Me deixe viver
Abandonar essa vida de bastidor
Porque quero me divertir
Afinal, não sou apenas mais um ator

sábado, 20 de setembro de 2014

Mania de escritor, mentir e viver

Sou um poeta
escrevo nas entrelinhas
o que meus conceitos querem dizer
imito sentimentos
como quem quer viver
canto minhas canções
como quem quer saber
mas ignoro o conhecimento
como quem quer ser feliz
pois habito num plano
onde tudo é igual
nada é colorido
e o único jeito
é não tentar ser perfeito

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Bloqueio sem nome

Nesta folha, o branco me desperta visões de tudo aquilo que eu poderia vir a escrever. Mas acontece que eu não consigo. Conforme eu penso em mais coisas, mais ideias, não consigo descrever em palavras todo o conteúdo imagético. Minha imaginação desperta, cada vez mais, com cada referência, lida, vista ou ouvida. Meu coração acelera com esse tipo de coisa, mas toda vez que coloco a caneta no papel, esqueço completamente de tudo o que eu estava pensando. Talvez seja um bloqueio, mas eu sinto que perdi a vontade de escrever. Todas aquelas coisas que eu pensava, sonhava ou só imaginava, se apagam no meu raciocínio. O fio perde a meada e eu esqueço aonde estou, para onde ir e de onde vim. Logicamente, então, esqueço do meu espaço imediato. Mas e quando estou? Esta pergunta, levemente capciosa, diz exatamente o que eu quero. Eu me sinto perdido numa linha do tempo, onde sinto que perdi tempo demais fazendo coisas de menos. E ainda mais, sinto como se não houvesse tempo suficiente. Então, a conclusão mais simples: estou morrendo, cada vez mais, e não fiz nada para aproveitar; sendo assim, vou mais fundo nessa linha de raciocínio e alego que eu poderia partir logo ou mudar meu estilo de vida e fazer mais nesse curto período de tempo que eu jamais fiz. Mas a verdade é que isso tudo é mentira. Tudo é. Me disseram que a verdade é outra coisa. A verdade é aquilo que existe. Mas e se eu me apaixono? Isso é a verdade? Não é meu corpo querendo outra coisa? Não vou me demorar acerca desses assuntos. Desisti desse tipo de coisa. A solidão, aquela velha amiga, me parece bem mais agradável. Ela me procura mais que qualquer outra coisa, ou pessoa. Eu não saberia dizer nada acerca disso. É uma consequência natural da vida. Assim como a morte. Então, por que tanto medo? Não é medo da morte. Sei que ela é certa e vem. O medo é que ela venha cedo demais. Que eu não possa fazer nada agora e nada depois. O tempo me ensinou muitas coisas. E a mais importante delas é aceitar. Acatar tudo o que me é dado. E seguir em frente. Prestar atenção na sutileza das coisas e procurar presentes ocultos. Podemos escapar de qualquer situação se prestarmos atenção nos pormenores. Eles definem a história. Basta prestar atenção e ler os sinais. Aprender que todo homem é uma ilha: nasce e morre só; mas que ninguém precisa viver sozinho. Afinal, o movimento de placas tectônicas é suficiente para movimentar as ilhas em qualquer direção, com relação aos continentes. Basta um intermédio. Cada um é responsável pelo seu próprio movimento no universo. As leis regentes abrigam os fantasmas das nossas decisões. E elas habitam nos cantos escuros do nosso interior e buscam massacrar nosso Ego. Para que possamos alegar, sempre, que não somos responsáveis e, sim, algo mais independente que nós. Que ele é o produto do meio inserido. E que, sem controle, ele pode fazer muito mais.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Sem pressão ninguém afunda

   Por toda a minha vida, eu sonhei em dormir uma noite sossegado, sem qualquer preocupação. Mas acontece que isso não passava de um sonho. Mesmo acordado, eu não conseguia pensar em outra coisa. Perdia o sono com isso. E, assim, eu continuava.
   Não era que eu pensasse nas coisas ou coisa do gênero, mas é que eu pensava em como seria em não tê-las na minha vida. O continente pelo conteúdo. Um caso simples de metonímia. Pensar em como seria não ter problemas sem, na verdade, enumerá-los.
   Colocar prioridades na minha vida, sempre foi um problema, mas isso se tornou ainda mais engraçado quando comecei a trabalhar. Acontece que eu fazia o meu trabalho relativamente bem, mas fazia o alheio ainda melhor. Por este motivo, acabei trocando funções no escritório.
   Secretamente, claro. Eu não era inteiramente competente para realizar tais funções. Algo que me surpreendeu. Até mesmo aos meus superiores. Algo sem precedentes, até então, quando muitos resolveram se mostrar. Parece que funcionávamos melhor sem pressão.
   Eu achava que funcionava bem sob pressão, até melhor do que o normal, até ver que era o meu traseiro na reta. Até eu ver que haveria consequências verdadeiramente desastrosas para o meu péssimo desempenho. E foi assim que eu comecei a ir mal.
   Eu tentava fazer o que eu achava que queriam que eu fizesse e acabava que eu não fazia o que sabia fazer melhor: meu próprio trabalho. E isso me sobrecarregou dia e noite, noite e dia. E eu não sabia exatamente o porquê disso tudo. Um trabalho ainda mais gratificante que o meu, impossível. Mas eu me encontraria sem ele se não encontrasse uma solução.
   E eu encontrei. Fazendo por meio de um favor, eu acabei fazendo o trabalho da mesa vizinha. E, assim, quando fiz o experimento, pedindo que ela fizesse o meu, percebemos o quanto a pressão nos prejudicava. Então, todos aderimos. Foi um movimento grande, mas silencioso. A chefia só percebeu depois de algum tempo, mas aí já era tarde demais.
   A discussão foi levada a uma reunião onde todos participamos de rostos sérios e apreensivos. A pauta só possuía um assunto. Deveríamos parar porque o regulamento da empresa não o permitiria fazer do jeito que queríamos. A discussão foi curta e grossa. Expomos nosso lado e, curiosamente, eles aceitaram nossos termos.
   Mas a burocracia demoraria muito tempo, de modo que continuamos a fazer o que queríamos na surdina. Acontece que a chefia sofria do mesmo. Era um problema cultural, praticamente. O trabalho que você faz, é seu, contanto que não tenha alguém para lhe vigiar porque, nesse caso, o trabalho será dessa pessoa.
   O sossego das noites está não em não ter problemas, mas sim em saber administra-los. O fato é cada questão tem sua prioridade e seu trabalho nunca estará em cheque contanto que você saiba fazê-lo melhor do que qualquer outro. Para isso, porém, você precisa fazer do seu jeito. E, se não tiver um, o primeiro passo é descobrir.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Distâncias imaginárias

Ele não tinha nome, mas ninguém tinha. Ninguém mais sabia de nada. O conhecimento humano já não era mais nada além de uma sombra. O menino não tinha idade. Não sabia os números. Sentava sozinho e era como ficava o dia todo, todos os dias.

Dormia de olhos abertos. Acordava sem perceber que havia dormido. E, nas olheiras, denunciava um sono muito maior do que o que sentia. Dentro de si, carregava mais lembranças do que gostaria de dizer. Mas não dizia nada. Tinha medo de fechar os olhos, de falar, do que poderia escapar.

Era levado, cada vez mais, ao Distante. Um mundo sem cor, transparente, bioluminescente. Lá, era assombrado por todo tipo de monstros. Em noites normais, ele podia se esconder nos livros, mas frequentemente ele era perseguido.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Prosa caótica

Me perdi aos dezessete anos
Perdido como nunca estive antes
Renegado entre almofadas
Choro minha alma sem palavras
Resoluto, mantenho minha obstinação
O desejo de ser feliz se apaga
Conforme enxugo as lágrimas
Determinado a esquecer
Lembro de todos os destinos
Das viagens que fiz ao longo
Numa rota sem direção ou sentido
Torta, andando em círculos
Procurando um destino comum
Meu cotidiano, o horror mundano

terça-feira, 8 de abril de 2014

Prosa sem nome número 1

Sobre as mulheres, há pouco que possa ser dito. Não as conheço tanto quanto gostaria. De línguas sujas e palavras feias, conheço tanto quanto. Sou inexperiente. Vivo em descanso, deitado, aproveitando do pouco que conheço. A vida me acontece de maneira simples e desocupada. Eu abro a janela, ouço os pássaros, sinto as brisas do eterno verão nordestino, sinto o sol quente na minha pele. Nem muito, nem pouco. Esperando que a vida aconteça, escrevo sobre meus sonhos, desejos e invenções. Não sou engenheiro, tampouco o poderia. Meu conhecimento de física e mecânica se restringe a saber de sua existência. Me olho no espelho e me reconheço, mas não sei quem sou. A personalidade que eu julgava ter, desaparece mais a cada dia que passa. O egoísmo que tanto carreguei na ponta da língua já escorrega para meu interior. Engulo como o orgulho que, antes, costumava gritar aos quatro ventos. A ânsia é o que sobe, em contrapartida, me mostrando que nem mesmo meu corpo aguenta. O que sou é uma forma tremeluzente e fora de foco. Uma imagem que se assemelha ao que eu costumava ser, mas que se define entre outras palavras, outros pensamentos, outras consciências. Os tabus deixam de sê-lo conforme penso em alternativas para quebra-los. Os costumes não são nada além de lendas. E eu me sinto confiante o suficiente para sair às ruas e gritar meu nome. Este ainda não me abandonou. A essência do que sou se define nele. Quando o digo, penso em tudo aquilo que sou. Não importa se mudei. Meu coro permanece neutro. É humano, afinal. Cheio de instintos animais diversos. Um deles é o de procriar. Sinto em toda minha totalidade. Mas não sinto vontade de estar em uma relação. Relacionamentos são complicados. Entendo muito pouco deles na prática, mas sou mestre em teorias. Quando é você no holofote, tudo muda. Errar é humano. E não há melhor forma de provar isso quanto nesses momentos. Amizades são relacionamentos de união. Você pode se separar quando quiser, apesar de não procurar. Se não funciona, você separa. Ao contrário de relacionamentos amorosos, que são os que você tenta fazer funcionar. Eu não participo deles por esse motivo. Não encontro ninguém que consiga funcionar. Gosto de estar sozinho, me olhar no espelho e me perguntar quem sou, perguntar minhas origens e meus destinos. Escrevo quando sinto que preciso divagar sobre isso. É meu ofício. Não sei fazer outra coisa. As pedras no meu caminho são empecilhos que me machucam quando me corto entre palavras ásperas de auto-crítica. Sou quem preciso ser. Não me arrependo disso. Sou o filho que meus pais sempre quiseram. E, disso, eu me arrependo. Todas as coisas que tenho vontade de fazer passam por um julgamento complicado. Meus pais aprovam ou não. E, a partir daí, minha crítica é similar. Minhas opiniões e convicções são apenas réplicas de modelos ultrapassados do século passado. Às vezes, eu me pergunto o que isso quer dizer. Sou o legado daquilo que uma vez se foi perpetuando-se entre os genes da obediência. Nunca faço o que quero. Só o que esperam de mim. Isso me magoa. Me mata. Me mostra como o sujeito fraco que não sabe o que quer porque depende da opinião alheia para tal.

domingo, 30 de março de 2014

Evidências equivocadas

Melhor fechar os olhos
e não ouvir nada,
se esquecer do vento,
olhar dentro de si
e abandonar o credo.

Poesia sem título nº 14

Bravura indômita é
querer sem viver,
saber sem sentir,
ir sem ouvir,
voltar sem amar.

Vida

Palavras sinceras,
mentiras honestas,
suspiros funestos.

sábado, 29 de março de 2014

Ossos do ofício: novos projetos

Algumas coisas podem ficar sem ser ditas. infelizmente, sou eu aquele que deve dizê-las. as palavras são reflexo da condição humana. existem e resistem ao longo do tempo, sempre se reinventando. é tarefa do poeta cronista relatar uma com a outra. e, assim, seguir.
A vida começa com moléculas que dizem sim umas às outras. sempre um sim. isso é Clarice Lispector, não me encare mal. ela que o dizia. desde que o universo é universo, existe um sim. e se não existisse? bom, ela não estava lá para ver isso. nem eu. nem ninguém. anti-matéria, quem sabe?
Assunto controverso. ninguém sabe o que é. só os físicos. e ninguém sabe como usar. mas a pergunta mais importante é como fazer. é que se entrar em contato com matéria, explode. tipo fogo e combustível. entende? não? nem eu. muitos não entendem. a maioria, pra falar a verdade.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Alívio ou dor?

Toda história, começa com seu próprio começa, seja um meio, seja um fim. essa, em particular, começa com a morte de um indivíduo. na jornada da vida, o fim foi o que ele menos esperava, embora fosse sua maior certeza.
O sangue em sua camisa secou rápido. hemofílico. o sangue não coagulou. assim, ele morreu de hemorragia. a faca ainda estava lá, em seu abdômen, como um símbolo. a morte vem para todos, mas chegou primeiro para ele.
O sorriso em seu rosto não denunciava os horrores que ele havia presenciado. mostrava apenas que seu último momento havia sido genuíno. provavelmente, nem sabia que a morte o atingira. os olhos fechados diziam isso.
Entre sussurros e sonhos cheios de alegria, ele se foi sem nem ao menos saber como eram os portões. chegou apressado. sem dizer olás ou distribuir simpatias. chegou logo ao seu destino. não quis saber de mais nada. nem precisava. seu paraíso o aguardava.
Na terra, porém, a trama se complicava. enquanto a morte do indivíduo, para ele, resultava na felicidade eterna, outros sofriam. seus pais, sua esposa, seus filhos, seus amigos. todos reagiam de uma forma diferente. cada uma possuía suas características especiais.

terça-feira, 25 de março de 2014

Um sonho de comunidade

Que todos os exércitos
venham em meu favor.
Pois sou o único e verdadeiro
líder das tropas ocidentais.
Venham me ajudar
a derrotar os tiranos
que aprisionam nossas mentes.
Provem do veneno e percebam
o mal que ele faz
apesar do gosto doce que traz.
Venham lutar contra o que é errado
em favor da justiça
do amor
e do perdão.
Coisas esquecidas pelo mundo,
pela vida
e pelos injustos
que tanto fizeram.
Venham hoje em busca do nosso nome:
LIBERDADE
e que não seja dito em vão
pois nós não somos quem você pensa.
Somos o povo, somos a riqueza,
somos a verdade.
E hoje nós declaramos guerra
contra tudo que não é nosso.
Todos os sentimentos ruins e egoístas
que surgem em desunião.
Venham em meu favor
e liderem comigo
a guerra do fim do que é meu
do que é seu.
Decretemos uma lei
do que é NOSSO.

quinta-feira, 13 de março de 2014

as cores da vida.

cinza. os prédios se erguem ao passo que o sol se move. um trajeto diário, pessoal e esclarecedor. dia após dia, semana após semana, mês após mês e ano após ano. é em nome do eterno que se dedica tal jornada. entre suspiros e sussurros, tanto fica no papel; as palavras somem em meio tantos sentimentos que se escondem atrás de cores e sonhos. os portais da imaginação discorrem entre mapas e teoremas da ideia humana.
você está no ponto A, segue como um, na linha do tempo, para o ponto B, mas quando chega ao ponto C, você já está transformado em outra faceta de si mesmo. ventos espiralados correm através das árvores e destroem cada membro da natureza composta, a vida que se ergue, a vida que continua, mas aquela que cai, todos os dias, ainda lembrança da jornada dedicada ao eterno.
o tempo vai, mas volta, tão logo os relógios percebem um erro, entre tantos pensamentos. o desejo age como motivador essencial da vida.
a linha da vida é como um agente para sequenciação do tempo. a literatura moderna o define assim, mais ou menos. não há muito a ser dito sobre o assunto. os teóricos apenas o imaginaram, mas as paredes das dimensões que nos esmagam no plano são finas como ar puro. a fumaça que enevoa nossos pensamentos é como um muro, grosso e impenetrável. assim, não podemos nos elevar e fugir.

terça-feira, 11 de março de 2014

Epigrama do que foi dito

Tudo o que foi dito,
perdido entre tantas coisas e tão pouco;
foi como um sussurro lançado ao vento
sem direção, sem destino, sem peso,
apenas um grito de socorro
dessa solidão que insiste em desolar.

Soneto da falta de compromisso

Embolado em sonhos infantis,
me vejo caminhar sobre nossa linha.
Nela, consigo ver todo nosso tempo.
E vejo que não tivemos tempo algum.
Fizemos tudo e não valeu de nada.
Nem pra mim, nem pra você.
Foi tudo muito surreal.
Fomos de oito a oitenta em segundos.
Mas, de repente, voltamos.
Então, abruptamente, paramos.
E não conseguimos continuar.
A pausa não foi uma escolha.
Foi, infelizmente, nossa única opção.
E não pudemos fazer nada sobre isso.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Amor próprio

entre palavras e suspiros
as lágrimas caíram
os dados rolaram
as guerras começaram
e os genocídios terminaram

revidou porque era necessário
fez da dor sua força
lutou quando não conseguia
e fez de si um coração mais forte
quando decidiu não mais bater
nem apanhar

desistiu da vida quando se viu
entre vencedores e perdedores
não se encontrando como um igual
sem amar e ser amado

uma partida sem começo e finais
apenas caminhos sinuosos
de onde podia ver o futuro
e ainda lembrar do passado
chorar e perceber um algo mais
a vontade de viver
por ninguém além de si

Esquece...

enterrado em mim
vejo-me nos espelhos
esqueço-me de tudo
vejo o passado e sorrio
lembro do futuro e choro
ouço ecos dos pensamentos
que já me assombraram
quando matei sem dó
todas as partes de mim
ainda magoadas
que discordaram
quando disse que te amo

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Poesia sem título n° 13

dentro de mim
como uma chama
se acende a vida
surge uma estrela
corre e cai no céu azul
o escuro imortal
como uma flecha
um coração que sangra;
é a morte que surge
num surto de vitalidade
trazendo presságios
do outro mundo
tocando a música
do meu funeral

Reencarnação

entre as montanhas
correm os rios
esculpindo sua estrada
e vivendo

entre as pessoas
vivo eu
fazendo minha trilha
seguindo a vida
e deixando de viver

entre as árvores
vive o chão
feito de pedras
sem origem
trazidas pelo vento
ou pela água dos rios
que vai ao mar
e lá se mistura
vira outro
e se perde
sem ganhar nada
além do mundo

o tempo separa tudo
desde as partículas fundamentais
até os maiores rochedos
com a esperança
de sempre retornar

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Epigrama da morte

Jaz em mim uma sombra
Aquilo que fui
Jaz em mim uma tormenta
Aquilo que fiz
Jaz em mim um arrependimento
Aquilo que deixei de fazer

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Puxa e empurra

Acostume-se ao que vem
Não ao que vai
Os melhores presentes são dados
Os mais amados são os recebidos
Uma vida é uma vida
Uma morte é uma centelha
Não que partiu
Mas que foi recomeçar
Em outro lugar
Com outras pessoas
Esquecendo-se de si, sempre,
Mas, felizmente, nunca dos que deixou
Lembre-se do que foi
E nunca mais seja
Abandone a si mesmo
E encontre outros como você
Dispostos a viver
E deixar morrer
Se confundindo nos meandros
Da linha do tempo
Entre começos e fins

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

sub-instintivo

Sem caminhos, entro nos bosques mais escuros dos dias mais tristes. o sol não aparece mais. ninguém me procura. ninguém me chama. sou esquecido entre tantos. e tantos se esquecem comigo. a cada pássaro, uma melodia. a saudosa vida escapa enquanto a virtude se esconde. mato com cada grito e assassino a cada refeição. a necessidade me espanta, mas não me abandona. a sanidade é uma imperfeição. existe apenas nos sonhos. e estes, há tanto abandonados, me retornam com terror e sanguinolência. os instintos mais selvagens despontam. o animal em mim retorna. e a razão, tão adorada pelos hedonistas, mente para mim. diz-me que o futuro é incompreensível. que ele não existe. o pensamento presente se confunde ao passado. em meio tanta dor e tanto pesar. é uma teia construída de fatos e sentimentos. entre rios de confusão, vejo meu reflexo e me dá um estalo. a vida não segue inútil. entre tantos gritos, rugidos e cânticos, todos os animais possuem certa sintonia. mas não me encaixo entre eles. são como abelhas e formigas. taxonomicamente parecidas até certo nível, mas não se misturam. abandono qualquer traço do meu tempo naquele lugar e sigo corrente acima. numa cidade, consigo ver mais do que matar a fome, a sede e ser refém dos meus hormônios. vejo a real possibilidade de rir, conversar e sentir algum prazer complexo. mas, cada vez mais, os sentimentos retornam. nesse meio, consigo sentir cada experiência acontecendo de novo. cada decepção, cada lágrima indevida. com isso, procuro abandonar a vida. me jogo. do alto. preto. não há mais nada. suspira. inspira. respira. devagar. quase parando. para de piscar, para de respirar, para de viver.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Suplicâncias II

Tenha pena de mim
Olha nos meus olhos
Prova das minhas ânsias
Devora meu peito
Me livra desse mal
Segura meu punho
Escreve minha carta
Suicida-me o corpo
E faz de si uma dor menor

Na maior das causas
A vida e todos os detalhes
Os pormenores disso tudo
Essa estrutura fracassada
Condenada e abandonada
Lar de todos os meus anseios
Cemitério de todos os desejos
Lápide de todos os meus beijos
As marcas de toda uma existência

É onde te vejo
Em cada esquina
A cada espelho
Dentro de mim
Crescendo como doença
A mãe de todos os males
A fuga de todos os mundos
Os labirintos de todos os teus beijos

~uma breve referência a 1berto Jéssica que, por mais que não seja do meu agrado, possui um dom para a literatura~

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A vida e seu companheiro

Escalpelado, infeccionado
Arranco meu cérebro, desnudado
Impensável, irrefutável
Dor incurável, mal irreparável

Amante sereno
Seja sincero
Morto-vivo, grito
Zumbificado, meu amigo
Abandone-me com o tempo
Largue-me ao relento

Sábio rei das estrelas
Abra-te as asas
Fuja da realeza
Mentirosa fortaleza
Da maldade, casa
Da morte, brasa

Aristocracia demoníaca
Do submundo intrépida
Energética sobrevida
Do comando desigual
Inimaginável e abissal
Tortura afrodisíaca
Amante megalomaníaca

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A redenção do pervertido

Nunca sofri de um mal que não pudesse controlar. Gripe, infecção intestinal, câncer. Alguns males são maiores que outros. Alguns infinitos são menores que uma porção inteira. E alguns amores não servem pra nada na nossa vida.

domingo, 12 de janeiro de 2014

A justiça é cega, mas ainda pode te dar uma rasteira

Quando você imagina que nada pode piorar, é quando piora. A vida começa para todo mundo. Para mim, foi aos cinco anos. Foi quando tive consciência das coisas. Não me lembro de nada antes disso. Alguns flashes, provavelmente. Minha mãe, uma mulher negra, trabalhava em uma casa, como empregada doméstica. Meu pai também trabalhava, então não tinha condições de cuidar de mim, em casa.Eu sempre ia com minha mãe para o trabalho. Lá, tinha uma criança que eu gostava de brincar. Era o filho da dona. Ele era diferente de mim. Eu era tímido e introspectivo. Branco, de olhos e cabelos claros, e rico, claro. Ele era altivo, esperto, falante e muito extrovertido. Em outras palavras, um safado. Ele fazia as coisas erradas e botava a culpa em mim. Sujava o chão, quebrava copos etc. Minha mãe não se importava porque sabia que era ele quem fazia isso tudo.

Soneto da mudança

As pessoas não mudam
Coisas mudam
Situações mudam

Não sou diferente
Me sinto diferente

Os dias nasciam
Passavam e iam
Sem muito mais

Agora, eles chegam
E ficam para sempre
Como crianças, brincando
Em sua recusa de crescer
Ficam para sempre...
na memória.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Incertezas

Eu queria saber meu nome, de onde vim e pra onde vou, mas acho que a certeza é algo demais pra se pedir quando não se sabe de mais nada e tudo é um Mal de Alzheimer gigante, que me faz ficar louquinho atrás das chaves da cozinha, que estão em cima do armário, no meu quarto, onde só eu hábito e minha lei provou-se incapaz de barrar os monstros que me assombram noite após noite com as coisas ruins, aquelas que jamais poderei esquecer, e que, às vezes, eu tento inventar de brincar comigo mesmo, pra ver até onde eu consigo chegar, sem perceber que, no final; só o que me faltava era um ponto final entre uma coisa e outra, pra não tumultuar, nunca mais, os pensamentos que eu tenho tanto medo de ter, sozinho no escuro, quando é dia e ainda está claro, e meu peito ainda se inflama por saber que seu apoio me é incondicional, lembrando sempre, que nada é pra sempre, a não ser esse amor que detenho pelo sol e pelas estrelas, que são símbolo da vida que eu escolhi carregar.

Palavras (08/04/13)

Doces palavras
Letras reajuntadas
Vogais unidas
Consoantes renomadas
Crianças nascidas
Vidas bonitas
Mortes aparecidas
Mentiras forjadas
Silenciosas moradas
Doces e mentirosas palavras

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Gemini

Quando os deuses criaram o mundo, não achei que ia dar em muita coisa. Fui, então, observar. Havia uma criatura diferente de qualquer outra. Não tinha pelos, penas, asas, bico ou cauda. Havia, no lugar de couro, um tecido mais fino e macio. Passei a andar entre sua espécie sem mostrar minha verdadeira forma. Ocultei minha presença dos mais sensíveis. Conheci, então, o mais belo deles. Um homem diferente de qualquer outro que eu havia conhecido.  Não tardou que eu passasse a acompanha-lo a todos os lugares que ia. Era como uma sombra invisível. À noite, podia-se ouvir minhas lamúrias de não estar ao seu lado. Silenciosamente, minhas lágrimas caíam como chuva nos terrenos férteis, tornando-os secos e inóspitos. Os desertos tornavam-se mais escuros e sombrios. O mal começava a rondar pelo mundo. Todos os dias, fazia uma prece aos deuses. Meus gritos formavam terremotos e furacões onde quer que passavam. Um dia, porém, cansados de ver tanto mal na Criação, o rei dos deuses resolveu me conceder meu maior desejo. Deu-me um corpo e um nome. A felicidade, antes um sonho inalcançável, estava se tornando uma possibilidade tangível. Corri atrás do meu amado, com lágrimas aos olhos apenas para vê-lo caído, morto. Sem sentir, desfaleci. Meu corpo se foi tão rápido quanto veio. Uma dor, uma dormência, um ardor; mil sensações vieram, de súbito, ao meu recente coração. Um último grito. Ecoou pela vida e pela morte, acordando  deuses e  demônios. Apiedaram-se de mim. Nos puseram no céu, sempre juntos. Os dois amantes. Os gêmeos.
Gemini - JAMIESON, Alexander

Minhas [des]ocupações mais valorosas...