quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A vida e seu companheiro

Escalpelado, infeccionado
Arranco meu cérebro, desnudado
Impensável, irrefutável
Dor incurável, mal irreparável

Amante sereno
Seja sincero
Morto-vivo, grito
Zumbificado, meu amigo
Abandone-me com o tempo
Largue-me ao relento

Sábio rei das estrelas
Abra-te as asas
Fuja da realeza
Mentirosa fortaleza
Da maldade, casa
Da morte, brasa

Aristocracia demoníaca
Do submundo intrépida
Energética sobrevida
Do comando desigual
Inimaginável e abissal
Tortura afrodisíaca
Amante megalomaníaca

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A redenção do pervertido

Nunca sofri de um mal que não pudesse controlar. Gripe, infecção intestinal, câncer. Alguns males são maiores que outros. Alguns infinitos são menores que uma porção inteira. E alguns amores não servem pra nada na nossa vida.

domingo, 12 de janeiro de 2014

A justiça é cega, mas ainda pode te dar uma rasteira

Quando você imagina que nada pode piorar, é quando piora. A vida começa para todo mundo. Para mim, foi aos cinco anos. Foi quando tive consciência das coisas. Não me lembro de nada antes disso. Alguns flashes, provavelmente. Minha mãe, uma mulher negra, trabalhava em uma casa, como empregada doméstica. Meu pai também trabalhava, então não tinha condições de cuidar de mim, em casa.Eu sempre ia com minha mãe para o trabalho. Lá, tinha uma criança que eu gostava de brincar. Era o filho da dona. Ele era diferente de mim. Eu era tímido e introspectivo. Branco, de olhos e cabelos claros, e rico, claro. Ele era altivo, esperto, falante e muito extrovertido. Em outras palavras, um safado. Ele fazia as coisas erradas e botava a culpa em mim. Sujava o chão, quebrava copos etc. Minha mãe não se importava porque sabia que era ele quem fazia isso tudo.

Soneto da mudança

As pessoas não mudam
Coisas mudam
Situações mudam

Não sou diferente
Me sinto diferente

Os dias nasciam
Passavam e iam
Sem muito mais

Agora, eles chegam
E ficam para sempre
Como crianças, brincando
Em sua recusa de crescer
Ficam para sempre...
na memória.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Incertezas

Eu queria saber meu nome, de onde vim e pra onde vou, mas acho que a certeza é algo demais pra se pedir quando não se sabe de mais nada e tudo é um Mal de Alzheimer gigante, que me faz ficar louquinho atrás das chaves da cozinha, que estão em cima do armário, no meu quarto, onde só eu hábito e minha lei provou-se incapaz de barrar os monstros que me assombram noite após noite com as coisas ruins, aquelas que jamais poderei esquecer, e que, às vezes, eu tento inventar de brincar comigo mesmo, pra ver até onde eu consigo chegar, sem perceber que, no final; só o que me faltava era um ponto final entre uma coisa e outra, pra não tumultuar, nunca mais, os pensamentos que eu tenho tanto medo de ter, sozinho no escuro, quando é dia e ainda está claro, e meu peito ainda se inflama por saber que seu apoio me é incondicional, lembrando sempre, que nada é pra sempre, a não ser esse amor que detenho pelo sol e pelas estrelas, que são símbolo da vida que eu escolhi carregar.

Palavras (08/04/13)

Doces palavras
Letras reajuntadas
Vogais unidas
Consoantes renomadas
Crianças nascidas
Vidas bonitas
Mortes aparecidas
Mentiras forjadas
Silenciosas moradas
Doces e mentirosas palavras

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Gemini

Quando os deuses criaram o mundo, não achei que ia dar em muita coisa. Fui, então, observar. Havia uma criatura diferente de qualquer outra. Não tinha pelos, penas, asas, bico ou cauda. Havia, no lugar de couro, um tecido mais fino e macio. Passei a andar entre sua espécie sem mostrar minha verdadeira forma. Ocultei minha presença dos mais sensíveis. Conheci, então, o mais belo deles. Um homem diferente de qualquer outro que eu havia conhecido.  Não tardou que eu passasse a acompanha-lo a todos os lugares que ia. Era como uma sombra invisível. À noite, podia-se ouvir minhas lamúrias de não estar ao seu lado. Silenciosamente, minhas lágrimas caíam como chuva nos terrenos férteis, tornando-os secos e inóspitos. Os desertos tornavam-se mais escuros e sombrios. O mal começava a rondar pelo mundo. Todos os dias, fazia uma prece aos deuses. Meus gritos formavam terremotos e furacões onde quer que passavam. Um dia, porém, cansados de ver tanto mal na Criação, o rei dos deuses resolveu me conceder meu maior desejo. Deu-me um corpo e um nome. A felicidade, antes um sonho inalcançável, estava se tornando uma possibilidade tangível. Corri atrás do meu amado, com lágrimas aos olhos apenas para vê-lo caído, morto. Sem sentir, desfaleci. Meu corpo se foi tão rápido quanto veio. Uma dor, uma dormência, um ardor; mil sensações vieram, de súbito, ao meu recente coração. Um último grito. Ecoou pela vida e pela morte, acordando  deuses e  demônios. Apiedaram-se de mim. Nos puseram no céu, sempre juntos. Os dois amantes. Os gêmeos.
Gemini - JAMIESON, Alexander

Minhas [des]ocupações mais valorosas...