quinta-feira, 13 de março de 2014

as cores da vida.

cinza. os prédios se erguem ao passo que o sol se move. um trajeto diário, pessoal e esclarecedor. dia após dia, semana após semana, mês após mês e ano após ano. é em nome do eterno que se dedica tal jornada. entre suspiros e sussurros, tanto fica no papel; as palavras somem em meio tantos sentimentos que se escondem atrás de cores e sonhos. os portais da imaginação discorrem entre mapas e teoremas da ideia humana.
você está no ponto A, segue como um, na linha do tempo, para o ponto B, mas quando chega ao ponto C, você já está transformado em outra faceta de si mesmo. ventos espiralados correm através das árvores e destroem cada membro da natureza composta, a vida que se ergue, a vida que continua, mas aquela que cai, todos os dias, ainda lembrança da jornada dedicada ao eterno.
o tempo vai, mas volta, tão logo os relógios percebem um erro, entre tantos pensamentos. o desejo age como motivador essencial da vida.
a linha da vida é como um agente para sequenciação do tempo. a literatura moderna o define assim, mais ou menos. não há muito a ser dito sobre o assunto. os teóricos apenas o imaginaram, mas as paredes das dimensões que nos esmagam no plano são finas como ar puro. a fumaça que enevoa nossos pensamentos é como um muro, grosso e impenetrável. assim, não podemos nos elevar e fugir.
as vozes que nos acompanham desde nosso nascimento, narram nossos pensamentos e nossas ações, por meio de palavras que, muitas vezes, talvez nem tenhamos conhecimento, mas, mesmo assim, são gritadas, puxando nossa atenção para o que realmente importa, mesmo que isso não seja o que nós venhamos a querer da nossa vida. nos perguntam nosso nome, mas não sabemos. então, a pergunta se ergue: quem sou eu?
e a resposta, tão logo uma brisa do inverno, é exprimida sem qualquer problema, como se fosse um desmembramento do ambiente. ninguém. e a verdade vem à tona, sem qualquer machucado, ferida ou escoriação. palavras similares que dizem respeito à profundidade. ninguém sabe disso, mas achei importante ressaltar.
a primeira vez que o narrador surge ao texto como ser humano é um momento de grande alarde. embora muitos não o conheçam, conseguem se identificar com algum ponto da narrativa, seja ela simples ou deveras elaborada. é um fato imutável. o narrador surge como ser humano e, a partir do momento, ele passa a ser personagem. não necessariamente da história em questão, mas da sua mesma, onde ele é o personagem principal e, ainda assim, tem seu próprio narrador, embora, na maioria das vezes, ele o desconheça.
quando nossos olhos se cruzaram, eu imaginei que o céu caía na terra e que o inferno ascendia por uma escada rolante. aquilo que eu senti foi uma mistura muito eficiente de calor e frio. eu tremia querendo arrancar as roupas. a ânsia, análoga do sentimento, foi aquilo que eu mais desentendi. o nervosismo me fazia querer expelir qualquer coisa que pudesse atrapalhar nosso primeiro contato.
você se virou, e eu também. sem muito a ser dito. então, olhei de novo. e te encontrei olhando de volta. de repente, seus olhos ficavam maiores. seu rosto, mais definido. seus lábios, mais vermelhos. e tudo isso, embora bastante surreal, só podia indicar uma coisa: a distância entre nós estava diminuindo. como?, eu não saberia dizer. minhas pernas, imóveis, não davam sinal de resposta. mas não as suas. elas vinham em minha direção.
então, meio que de repente, uma palavra corta o silêncio; não sei bem o que foi, mas conheço aquela palavra como um sinal em minha mão; de tanto ser dita ficou banalizada, mas quando ela a disse foi como a coisa mais linda que eu havia ouvido e, juro pela minha vida, que me derreti todo quando ela sorriu pra mim; foi como o dia mais longo do verão: um calor insuportável e uma tortura física.
entre tantos pensamentos, me perdi naquele que eu mais queria evitar, te beijar; e, assim, o fiz. com todo o meu coração. acelerado. quase saltando pela boca. uma bomba-relógio. por todo o meu corpo, eu sentia o sangue sendo bombeado. no momento, de olhos fechados, imagino todo tipo de coisas alegres. sinto seu corpo curvilíneo e me sinto diferente, excitado.
coelhos tirados de cartolas não imaginam onde estiveram e para onde vão; são apenas peões de um truque barato que fascina gerações. assim acontece com os seres humanos e a vida; muito embora seja um truque barato e, muitas vezes, sem graça, a maioria de nós apenas decide leva-la como se não houvesse outra alternativa.
quando nossos lábios se tocaram, eu duvidei dessa lógica por um segundo. e conforme você me abraçava, eu refutava essa ideia cada vez mais. afinal, se havia algo tão bom no mundo, a vida não poderia ser apenas um truque barato. tinha que haver mais. e eu viveria cada um desses momentos. ou, pelo menos, foi o que eu pensei.
azul. a cor do mar que agora olho e tanto admiro. ao longe, os pássaros cantam e caçam. os peixes gemem de dor enquanto a vida se esvai. é bonito, tem que admitir. o milagre da vida se deve a isso. até mesmo no reino das plantas existem algumas parasitas ou carnívoras. a vida devora a si mesma e isso é muito bonito.
era a cor dos teus olhos, sabe? esse azul profundo de enlouquecer qualquer mente sã. qualquer mel era mais azedo que teus lábios. e qualquer baunilha era mais enjoada que teu cheiro. infelizmente, minhas palavras não foram o suficiente para te manter comigo. nem meus beijos, nem meus abraços, nem meus sussurros ao pé do teu ouvido.
mas tão logo nosso beijo terminou, meu sorriso já se erguia aos cantos da boca, só que não era recíproco, não importava o quanto eu desejasse isso; sua indiferença se mostrava como uma máscara ao seu rosto, sem que eu pudesse, sequer, ver meu reflexo em teus olhos e me afogasse numa ilusão profunda, desprovida de qualquer lógica. foi só um beijo inocente. para você, talvez.e eu?
as pessoas possuem um algo a mais. a natureza sente isso. a natureza molda a vida conforme seus caprichos. a consciência humana é um mero boneco cujo ventríloquo não sabe como mexer as cordinhas e acaba se atrapalhando. num primeiro momento, o interesse surge, mas de repente ele desaparece. acho que isso acontece vezes demais.
quando eu era criança, estudava numa escola muito incomum. os alunos eram loiros, em sua maioria. na minha classe, eu era o único moreno. olhos grandes e escuros se destacavam em meio a tantos azuis e verdes. diziam-me que eu era endemoniado e precisava fazer alguma coisa para me libertar de toda aquela energia negativa. sempre achei que era besteira. mesmo quando criança, eu tinha senso do ridículo. as outras crianças me evitavam. principalmente a mais bonita da sala. o sonho de consumo de qualquer um. ela me evitava, ignorava e, de mim, fazia mais chacotas que posso revelar. isso me deixou sequelas. graves.
ao longo da vida, isso se repetiu constantemente, por um motivo ou outro. sem perceber, eu me encontrava como um zé ninguém mais comum que qualquer um. isso, na minha infância, teria sido bom. chegando à idade adulta, quem não se destaca, se perde num mar de mesmices e trivialidades. se perde no sistema.
verde. as árvores que tanto iluminaram minha infância, hoje fazem com que eu me perca cada vez mais admirando seus frutos. consigo ver o futuro dentro de cada semente. as flores, furta-cor, despontam no meu inconsciente. pipocam como ideias novas. me surpreendem com sua variedade de resultados. os cruzamentos entre rosas e violetas me lembram o cheiro de vida nova.
mudanças são a primeira coisa que uma criança não gosta na vida. depois das cócegas. cada vez que uma criança faz parte de uma mudança, ela sofre uma ferida. ou seria um machucado?, não sei. a verdade é que ela tem que se readaptar e se reinventar a cada vez que isso acontece.
aos seis anos, tive minha primeira mudança de ares. não sei dizer se foi uma coisa boa ou ruim. ainda não tinha formado meu inconsciente, meu eu. a mudança não foi nem pra melhor, nem pra pior. foi só uma mudança. meus pais, porém, sofreram problemas de adaptação. então, quando mudamos de novo, a história há pouco mencionada aconteceu. mas eles estavam bem. se enturmaram como uma mão numa luva.
vermelho. a cor do sangue derramado por todos os inocentes em todas as guerras. fossem elas ideológicas ou físicas. o imperialismo humano sofre de etapas, assim como a paternidade. no começo, eles te impõem as mais variadas torturas. depois, eles te perguntam e, mesmo assim, te impõem. e, ainda mais tarde, eles só perguntam. mas você não sabe o que escolher, então segue o fluxo e faz o que te sutilmente sugeriram. foi assim que sofri pelos meus pais.
nasci uma pessoa. foi sutilmente ordenado a me tornar outra por eventos que se seguiram na minha vida. cresci com os lobos que me ensinaram que, na vida, você só está tão sozinho quanto a lua em nossa órbita. quer dizer que existem outros objetos, mas que não são tão importantes.
a estrada é turbulenta em todas as direções. as encruzilhadas são diferentes, mas terminam todas no mesmo lugar. eu queria saber escolher, mas tenho dúvida com todas as coisas, curiosidades por todas as jornadas e seus métodos e imaturo por querer viver uma vida com menos emoções, sem saber me divertir com cada pedra no caminho.
preto. o luto por todos os meus amores permanece firme em meu coração. é como uma marca de guerra. cada cicatriz conta pela experiência. mesmo que tenha sido eu a fazê-la. em cada espelho, me vejo com um sorriso diferente. cada um me mostra uma das minhas conquistas, mas sinto que se eu as juntasse numa faceta só, eu me sentiria nu e vazio. porque cada uma foi independente da outra. interligada apenas pelo fluxo de consciência. o que prova exatamente que eu era uma pessoa diferente a cada uma delas.
branco. nunca haverá paz nesse mundo. isso é porque não existe paz no coração dos homens. entre palavras, ações e cores, só existe uma verdadeira verdade: a tristeza que provem da desocupação é a prova que o fluxo de consciência interliga o bem e o mal. assim, um depende do outro. como dois lados da mesma moeda. tristeza e alegria, amor e ódio. o eterno e o fim dos tempos.

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