segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A redenção do pervertido

Nunca sofri de um mal que não pudesse controlar. Gripe, infecção intestinal, câncer. Alguns males são maiores que outros. Alguns infinitos são menores que uma porção inteira. E alguns amores não servem pra nada na nossa vida.

Foder nunca foi problema. Bebo e acontece a mágica. Todas elas parecem melhores. E eu? Desejado? Nunca. Na verdade,  é bem ao contrário. Eu sou aquele cara. O último do bar. O que começa a noite mais tarde e termina depois de todo mundo. Geralmente, quando a gostosa bem feita metida a santa decide dar pra alguém, mas todos já foram embora. As gordinhas saem mais cedo. Os rapazes ficam cheios de si e perdem as inibições quando bebem. Meu caso.

Eu sigo uma estrada solitária, de motel em motel. São mais baratos que hotéis. E ainda tenho um serviço de quarto melhor. Não dá pra dormir muito. Só umas três horas por dia. Quando eu decido que já é hora de acordar, já fui expulso e estou deitado ao lado do meu carro. Os donos de motéis são impossíveis. Mal acaba seu horário e eles nem querem mais saber o seu nome. Querem logo dar o quarto a qualquer um que apareça na porta.

Nem eu mesmo sei, quanto mais os outros. Como vou repetir algo que nem disse uma primeira vez? Cansado, sigo a estrada mais uma vez. Ironicamente, não sou desempregado. Antes fosse. Dava menos trabalho. Sou empregado de um jornal da capital. Não sou crítico de motéis. Antes fosse. Dava mais dinheiro. Eu sou crítico de mulheres.
Sei que isso não faz sentido, mas eu acho muito mais gostoso foder do que trabalhar pesado, como pedreiro, marceneiro, etc. E ainda acho melhor que ser um entediado numa sala de aula ensinando jovens porquinhos que nunca vão corresponder às expectativas dos pais. Então, sou um crítico de mulheres. Um colunista mesquinho sobre assuntos variados que sempre comenta sobre a melhor coisa da vida: mulheres.

Quando eu vejo uma mulher, parece que um número aparece em cima de sua cabeça. É a sua nota. Varia de zero a dez. Inicialmente, ela se define pela beleza exterior. Essa nota ainda é muito transformável. Pessoalmente, as gordinhas sempre têm notas mais altas. É inusitado que eu seja um dos poucos que pensem assim? Não. Sinceramente, as gordinhas se esforçam mais.

Quem não é atraente tem a obrigação de compensar isso. As gordinhas compensam isso dando as melhores chupadas que eu já senti. As magricelas acham que estão nos fazendo um favor por deixarem nós a comermos. Já comi muito, mas não é algo que eu necessariamente goste. As gordinhas se esforçam mais. Ponto final. Outra coisa: elas ficam tão agradecidas que até pagam pelo motel.

Eu não devia fazer essa denúncia na minha coluna, mas é que eu já não aguento mais. Essa vida de cidade em cidade. Escrevendo sobre um estilo de vida boêmio que eu nunca pedi. Mas, nunca recusei, essa é a verdade. Então, eu abandono essa vida com a promessa de uma existência mais simples, apesar de curta. Hoje, abandono a vida e entro pra história. Contei-lhes tudo o que eu sabia sobre as mulheres. Façam uso disso, homens. E, mulheres, resistam. Vocês são mais que pedaços de carne.

Me desculpem ter demorado a entender isso.

Um comentário:

  1. Pedrão,

    Vou lhe ser bem sincero, ok?
    Eu acho fantástico que alguém tão jovem se interesse, hoje em dia, por escrever textos literários. Acho mais interessante ainda o fato de você dispor de certas ferramentas para o negócio, como o domínio básico das regras gramaticais, para dizer o mínimo do mínimo que nem deveria contar, se não vivêssemos numa época em que isso é surpreendente, posto que raro. Mas além do domínio das regras gramaticais, você já demonstra certo ritmo, alguma habilidade na construção de imagens e na disposição delas. Você demonstra estar no caminho, bastando, contudo, e é aqui que o bicho mora, desenvolver mais essas habilidades. Muito mais, na verdade.
    Não se contente em mostrar o que já sabe e parar por aí, em continuar escrevendo e publicando com um tonzinho mal disfarçado de empáfia, achando-se o máximo ou algo assim. Porque a batalha é longa e árdua, e você aprenderá que, em última instância, ela não dá em lugar nenhum. Lembre-se de que literatura, quando verdadeira, no limite significa derrota, e para aprender isso - e é algo que eu nem devo explicar a você, por uma questão de ética do negócio, por acreditar que você deve trilhar seu caminho, mas com a certeza de que você, se persistir, compreenderá que isso é inevitável - para aprender isso, você tem que ralar muito. Essa derrota, essa compreensão, significará, porém, maturidade, e humildade frente ao monstro incompreensível que você tem à frente.
    Se você quer mesmo ser um bom escritor ou um bom artista ou um bom qualquer coisa, não se contente em chegar ao domínio do mínimo, apenas porque o mínimo é escasso num mundo tão desértico. Você tem que ler muito mais, aprender muito mais com outros escritores; tem que ser mais autocrítico, ou muito, mas muito mais autocrítico. Você, principalmente, tem que viver! Seu texto está bom. Mas não comove, não convence em nada, em nadica de nada. Não soa como você talvez imagine em seu momento de empolgação. Ele entrega, aliás, aspectos de seu ser que talvez você nem queira mostrar, que talvez sejam vergonhas enormes suas. Basta ler com atenção.
    Mas, se estivéssemos em sala de aula, se você fosse meu aluno, eu adoraria ler um texto desses, eu lhe daria mil elogios e uma nota bem alta, o colocaria num altar na escola, pra tirar sarro com todos os outros alunos pregos e alienados! Mas agora, tenho que ser mais duro e sincero: acho que elogios, falsos ou de quem não entende, não levam a nada; apenas estragam as pessoas, e muitas vezes matam talentos, que se conformam com muito pouco. Toda crítica envolve uma ética, compromisso com a felicidade do outro, com a verdade comum. Mas toda crítica, obviamente, deve ser filtrada. Há quem não saiba nada de nada hoje e saia por aí dando “opinião” sobre tudo. Eu, no entanto, além de ser bem sincero e preocupado com você e com a causa literária - se eu não fosse, por que perderia tanto tempo escrevendo esta crítica? -, acho-me um tantinho preparado para observar certas coisas, porque leio muito, há um bom tempo, e tenho a literatura como parte essencial de minha vida.
    Portanto, quero que você sinta e passe essa paixão ao seu leitor; quero que essa paixão queime seu coração e os olhos de quem estiver lendo os seus escritos. Para que tudo soe mais real do que o real, que é uma das facetas da literatura de qualidade, você deve queimar ao escrever. Mas isso exige uma compreensão maior da coisa toda. Envolve entrega, verdade, paixão. Só que entrega exige perda de si; verdade nem sempre é algo desejável e feliz; paixões causam sofrimento, mais do que alegria. Falta, em resumo, sinceridade em seu texto. Mas isso é motivo pra você persistir, se está mesmo a fim de enfrentar o dragão, de cruzar o abismo, mesmo sabendo que vai ser derrotado, mesmo sabendo que vai cair.
    Então, você topa?

    Abraço, garoto de ouro,
    Reno.

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