segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Da tormenta à calmaria

Sentado nesta cadeira, penso em tudo que aconteceu. Minha vida sempre foi agitada, cheia de festas e bebedeiras, mas em algum ponto ela mudou drasticamente. Os sonhos que antes eu tinha e tentava afogar, desapareceram completamente. Não vi mais necessidade de ter tantos blecautes mais. Participei do AA. Vi que era necessário, assim como todos os outros da minha intervencão familiar. As crianças falaram primeiro. Pediram-me perdão por tudo que fizeram de errado, mas apontaram todos os meus erros. Falou então minha mãe, aquela que sempre tomou conta de mim. Pediu-me perdão por tanto ter errado comigo. Abandonou-me ao nascer, nos braços do meu pai. Depressão pós-parto não é algo incomum. Dez anos depois, apareceu com a cor do cabelo mudada, fumando e, também, no AA. Minha esposa falou então, tudo o que pensava. Não me pediu perdão, pois não era necessário; não sentia vontade, e eu concordava. Que mulher esplendorosa eu havia arrumado para mim! Eu senti-me envergonhado e triste. Meu pai havia morrido há alguns anos, de câncer no fígado. Ele bebeu até a morte. Nunca se recuperou do abandono de minha mãe. Casou-se várias vezes mais com mulheres que tomaram todo o seu dinheiro. Minha mãe, então, que não conseguia parar de fumar, me tomou aos braços e revelou que só havia voltado por mim; ela nunca havia amado meu pai de verdade. Fora um casamento arranjado pelas duas famílias, para fundir os negócios. Algo que funcionou bem, na verdade, até que ela nos abandonou e foi deserdada, deixando tudo para mim, sob o controle do meu pai. Ele, como eu já disse, acabou com nosso dinheiro. Eu sempre tentei seguir seus passos, de garanhão inveterado, mas sempre senti que não era meu lugar. Casei-me e tentei estabelecer família, mas não consegui. Não me sentia feliz, tampouco realizado. Agora, sentado nesta mesa, sóbrio há dois anos, eu e minha família agradecemos sempre ao método de doze passos, que eu ainda sigo, por hoje e para sempre!

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