sábado, 2 de fevereiro de 2013

Carta ao sax

Outro dia, quando estávamos a passar, eu e o senhor meu marido, observamos um sem-teto tocar o saxofone. E que instrumento magnífico ele tocava. Senti-me uma princesa, sendo cortejada. O senhor meu marido não tardou e chamou-me a dançar. Conforme bailávamos, e todos os outros nos observavam, revi todos os nossos momentos juntos. Não bem entendi na hora, mas o coração pulsou devagar. Enrubesci as partes altas e baixas, temo dizer. O espírito se inquietou e começou uma frenética maratona. Após o término da música, dei-lhe alguns trocados e agradeci, firmemente. Outros também agradeceram, não somente ao saxofonista, mas à mim e meu marido, pelo show. Decidi tomar aulas de dança. Meu marido não suportou a ideia, sinto dizer, mas aceitou. Logo estávamos dançando como marido e mulher, realmente, devem dançar. Nos tornamos os melhores da turma. Sempre me lembrava do show de saxofone que era dado, todos os dias, naquela mesma praça. O senhor não era de todo mal. Vestia-se mal, era feio e sujo. Seu nariz era vermelho, indiferentemente de muitos outros beberrões da região. Sua pele era bronzeada, de um tom acastanhado, muito bonita. A barba pendia, longa, do rosto robusto e redondo. Ele fedia, mas não era sua culpa. Nunca mais havia passado por aquela praça com meu marido. Ele andava demasiado ocupado e sem tempo para mim. Decidi não mais passar por ali, até que meu marido me convidou; o que, eventualmente, aconteceu. Fomos e dançamos, várias vezes mais. As gorjetas continuavam frequentes e suficientes para pagar a dose diária de cachaça. No final, agradeço ao saxofonista, pela chama que se acendeu, após tempo demais apagada!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Minhas [des]ocupações mais valorosas...