segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Um grito

O vazio existencial é essencial para um bom desenvolvimento cognitivo perante a vida, como um todo.
Um rato passa correndo, enquanto olho para um artista. O momento é rápido e não entendo muito bem o que está acontecendo. Tenho medo de ratos, sinto importante ressaltar. Animais, em geral, me assustam. Gatos, principalmente, pois suas garras afiadas podem transmitir doenças demais. Cachorros latem e intimidam, sabia? Eu tenho muito medo, assim como vocês também deveriam ter. Estou em uma ponte, num dia quente, ensolarado. O artista olha a tudo e todos, com sua visão especial. Eu não sei bem de onde ele é, não me parece estranho. Sinto que tudo ganha vida em sua mão. Ele parece talentoso, pelo modo como fala. Meu medo desaparece, após um grito. O grito. O maior que já dei. Todas as pessoas pararam para me encarar. Eu não entendo bem o porquê. Sempre pareci são, nos meus dias de juventude. Me sinto velho, por ter medos tão incomuns e tão ridículos. A água abaixo de mim é mais assustadora que os animais, porém, medos irracionais são inexplicáveis. Talvez eu tenha tido trauma, na infância, mas, nunca saberei. Eu sinto dizer que o rato era grande e marrom. Ouvi dizer que são os menos perigosos. Tem menos pulgas, dizem os rumores. Ainda bem , então. Eu não sei como viveria com pulgas. Se bem que meu cabelo há tanto já se foi, que o couro está começando a esquentar. A loucura tange o possível, de modo criativo. As cores se distorcem e meu futuro parece incerto. Cada criatura parece um monstro, com várias patas, chifres e garras. Tenho muito medo do que possa acontecer mas, nada digo, pois se o fizer, tachado de louco irei ser. O artista vê meu grito e sorri. Não o entendo, parece algum tipo de maluco. Eu acho que ele está com alguma epifania. Entenda, caro leitor, que a vida parece mágica aos olhos de todo bom artista. Eu não entendo bem como isso acontece mas, sei que é possível. Transformação de algo grotesco em arte, é uma tarefa primordial. Meu grito pareceu estranho à multidão. O artista amou. Eu não sei como ele fez isso mas, ganhou meu respeito. Transformação improvável de expressão em expressão. Ele fez o que viu, aos próprios olhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Minhas [des]ocupações mais valorosas...