terça-feira, 16 de abril de 2013

Fácil demais


"Você me tem fácil demais", ela disse enquanto ele a beijava, repetidamente. Era uma noite fria e melancólica, onde ela se sentia excitada com o som do vento que batia as janelas. A casa era antiga, mas nem tanto. Era bagunçada demais. Entretanto, não era suja. Ele não parecia o tipo que se preocupava com bagunça tanto quanto com sujeira. Ele não parecia nada. Ele só a tinha chamado pra sair daquele bar nojento. E ela, sem saber o que dizer, aceitou. Foram no carro dele. Ele disse algumas palavras doces e ela caiu.
"Se meu amor for seu único
Esta noite, quero ser punido
Dê-me o que tens de precioso
E fuja com o que tens no bolso
Uma noite de amor e prazer
Não sei mais o que dizer..."
   Ele disse como uma oração, entoando cada verso com paixão significante. Ela se deitou na cama, enquanto ele a despia, lentamente. Seu peito nu era tido como parque de diversões, enquanto...
   Pela manhã, ela não sabia onde estava. Que casa assustadora era aquela. Mesmo as manhãs eram tremendamente horríveis. Naquele mês em particular, as árvores despontavam um tom alaranjado deprimente. Ela desceu as escadas, gritando "alô?", esperando que alguém a encontrasse. Ela não sabia onde suas roupas estavam. Foi até a porta da frente e tentou abrir, mas estava trancada. Procurou a cozinha e ele estava lá, sentado, cortando as unhas.
   "Acordou, meu amor?", ele disse quando a viu, levantando os olhos, rapidamente. Ela perguntou, no mesmo instante: "quem é você?"; seus olhares se cruzaram, pelo que pareceu uma eternidade. "Não lembra de mim?", ele perguntou, imitando um som de auto-piedade. Ela não percebeu. Se sentiu atraída por ele imediatamente. "Que tal sairmos daqui para algum lugar... mais agradável, se é que me entende?", ela perguntou largando os lençóis com que se cobriam. 
   Ele largou a tesoura e a puxou, rapidamente, para seu quarto. Lá, repetiram a noite anterior. E, mais uma vez, ela dormiu. "Não me interessa mais", ele disse, desta vez, olhando seu rosto. Abriu sua gaveta e dali retirou um objeto. Era pontiagudo e brilhante. Ele o apertou contra o corpo dela. Quando ela abriu os olhos, já não havia mais nada. O sangue escorria pelo orifício feito em seu abdome. Nenhuma palavra mais saía de seus lábios. O som morria, afogado em sangue e dor.
   Ali, jazia morta, mais uma. E, assim, ela se tornava ainda mais interessante. Seu corpo, agora rígido e inerte, poderia produzir mais prazer ainda. Fez dele seu parque de diversões. Deflorou sua dignidade. Deflorou-lhe até mesmo a alma. E quando ela já não era mais interessante, descartou-lhe o corpo, mantendo apenas a lembrança e o doce sabor da carne.
   Cortou-lhe a pele doce e jovial. Retirou-lhe as vísceras, enquanto punha em recipientes próprios para tal. Primeiro o intestino delgado, depois o fígado. Então, pegou os rins e separou em vasos separados, para ocasiões distintas. Em relação aos outros órgãos, ele foi rápido e simples, para que pudesse ir dormir. Estava com sono. Aquele dia fora, sim, cansativo. O resto? Ele cauterizou e enterrou. "Onde os olhos não veem, o coração não alcança", ele pensou.

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