segunda-feira, 11 de março de 2013

"Você precisa melhorar"

   Os seres humanos tem um problema. São crueis demais. As palavras mais suaves podem ser as mais perigosas, dependendo de como são ditas. Carinho é essencial. Mentiras podem ser bons caminhos a se tomar, não acha? Eu penso que sim.
   "Você precisa melhorar", ela me disse, como se eu fosse a pior pessoa do mundo. Eu a fiquei encarando e decidi que não valia a pena. Tudo que pratiquei, posto a prova, naquele instante. Eu amaria dar um soco na cara dela, mas decidi que a vida valia a pena demais. Não ia estragar minha paciência por isso. Ah, que se dane.
   Dei o soco.
   "Por que você fez isso?", ela me perguntou, sentada no chão, com o nariz escorrendo sangue. E eu respondi, calmamente, como se nada tivesse acontecido: "porque eu quis, uai; precisa de mais o quê?" E ela me encarou, como se não estivesse acreditando no que estava acontecendo. Tudo foi rápido demais a partir dali. Minha mão, antes em fogo, agora estava quente e dolorida. Eu não conseguia mexer os dedos.
   A próxima coisa que eu me lembro é de estar sentado na sala da coordenadora. Ela era baixa, mas inspirava medo. Sua presença já era mero caso de chamar a mãe. Seu sorriso havia desaparecido no instante que eu e Camila entramos pela porta. O pingo de gente perguntou o que teria acontecido; Camila, na mesma hora, respondeu que não havia sido nada demais. Mas, nos entreolhamos como se estivéssemos escondendo um mapa do tesouro. Ela perguntou, mais uma vez, só que para mim. E eu respondi, com clareza:
   "Eu não fiz nada demais. Eu estava cuidando da minha vida, sentado na sala, quando ela chegou. Ela abriu meu caderno, tirou um dos meus textos e, contra minha vontade (e apesar dos meus esforços), ela leu e começou a debochar. Ela me disse, mais de uma vez: 'você precisa melhorar, sério mesmo'. Eu tentei, calmamente, pegar o meu texto, mas ela não me devolvia. Ela parecia estar se divertindo especialmente com as pessoas que se juntavam ao nosso redor para ver o que acontecia. Ela decidiu, então, ler em voz alta. Eu fui me sentar. Tentei me acalmar. Mas, o fogo era forte demais. Esperei que ela terminasse. Todavia, quando ela me disse, mais uma vez aquelas... palavras indesejáveis... eu a odiei mais que tudo no mundo. E, então, dei o soco. Foi só isso que aconteceu. Nem mais, nem menos. Nem fede, nem cheira."
   O pingo de gente ouviu atentamente o que estava acontecendo e, para não me dar razão, me suspendeu (apenas na prática, pois ninguém além dela mesma ficou sabendo disso). A menina foi suspensa, de verdade. Ficou três dias em casa e, quando voltou, estava mais bronzeada que nunca. Até o cabelo estava mais claro.
   Realmente, seres humanos podem ser crueis. Mas, cada um ganha o que merece. Eu acredito que ela ainda vai apanhar muito na vida. Porém, por enquanto, deixe-a ser uma rainha. Porque cada trono cai em areia e sal, corroído pelo tempo e, algum dia, eu também serei rei. E quando o for, aproveitarei cada segundo.

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