segunda-feira, 25 de março de 2013

O cronista

   Em uma linha, tento escrever minha vida. Suaves versos de uma prosa delicada. Mas, acaba ficando maior do que eu imaginava. Mas, também fica menor do que eu queria. Uma crônica dos meus dias, presa às letras, sendo descrita como se não houvesse nada melhor. Mas, há; o problema é que eu não sei como descrever. Acho que não interessaria.
   Começo contando o nascer do sol. Sim, eu acordo ao nascer do sol. Há algum problema? Você tem algo contra? Enfim, continuo contando sobre meu café-da-manhã. Geralmente, é só um sanduíche de ovo, presunto e queijo; e, para beber, um copo de leite. Todavia, hoje eu estava com vontade de tomar vitamina de banana.
   E, saindo para o trabalho, encontrei um cachorro. Odeio cachorros. Ele abanava o "rabinho", conforme eu tentava despistá-lo. Ele andava calmamente atrás de mim, como se não quisesse outra vida. Rapidamente, entrei no carro e saí. Liguei o rádio e pus na minha estação favorita. Tocava uma música suave, feita do canto de um rouxinol. Aquilo me acalmava. Depois, coloquei uma fita de sons do mar. Baleias passeavam pelo meu carro, enquanto bolhas estouravam e eu quase conseguia sentir o cheiro de sal. A viagem parecia sem fim.
   Ah, esqueci de mencionar que moro em uma cidade diferente? Gosto de morar afastado do Centro Urbano. É uma máquina (des)concreta do mal. Trabalho lá por pura imposição. A cidade em que moro não possui tal cargo. Sou um manipulador. Toco a mente das pessoas em busca de dominá-las. Não, não sou político (percebe-se pelo fato de que não pareço ser corrupto), mas sou um publicitário. Meu emprego traduz a capacidade de controle humano. Muitos não o percebem, mas os que o fazem, são infelizes. Eu sou infeliz. Não sei se é porque descobri tal falha de controle ou se é porque sou burro. Será que sou, afinal?
   Segui adiante, sem olhar pra trás. De repente, o carro perdeu o controle. O movimento brusco me acordou bem a tempo, felizmente. Segui meu caminho, como se nada tivesse acontecido. Alguns dez minutos depois, eu cheguei ao meu destino. Vi uma vaga e estacionei. Realmente, os deuses estavam me ajudando naquele dia.
   Entrei no escritório. Decidi uma coisa. "Que tal subir as escadas?", pensei comigo mesmo. E, então, subi. Mas, quando subi, vi minha secretária chorando. Não entendi bem o porquê. Ela não me viu, não levantou, não fez nada. À proporção que eu me aproximava, eu via que seu corpo se encolhia mais e mais. Fiquei encarando seu choro, sem lógica aparente, até que chegou uma senhorita de não mais que vinte e cinco anos (mal vividos, aliás). Ela perguntou o que havia de errado. Minha secretária gritou e respondeu, com o coração na mão. Eu senti a dor de suas palavras como uma flechada no fígado. Eu ia vomitar.
   "Ele está morto, o meu querido chefe...", as palavras pesaram como balas no cérebro. Caí. Eu não conseguia levantar. O que estava acontecendo? Como eu estava ali? E como, na verdade, não estava? Me olhei no espelho; ou, pelo menos, tentei. Não havia reflexo. A luz passava através de mim como um corpúsculo transparente. E, quando eu menos esperava, desapareci. Meu corpo começou a doer. Não. Que corpo? Não havia corpo algum. O que era aquilo? Meu "etéreo" começou a desaparecer. E como eu desaparecia? Não sei. Eu já não sabia mais de nada. Tudo que eu imaginava era mentira. Eu começava a me esquecer. Toda minha vida passou perante meus olhos como um flash.
   Mas, desapareceu tão rápido quanto apareceu. E esta história? É delírio da minha mente de quando eu dormia enquanto dirigia. Às vezes, eu queria que a inspiração viesse com mais facilidade e, de preferência, enquanto eu não estivesse ocupado.

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