quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O despertar do Mal

   Era uma noite fria e desértica. Nada se movia. As cobras, no entanto, se alimentavam. As corujas cantavam uma melodia soturna e desoladora, onde todas as criaturas se abrigavam, à luz da lua, que a tudo recobria, como um manto sombrio. Uma cova era aberta e, ao contrário do que se supunha, em uma clareira, àquela hora da noite, era para um "corpo" retirar. O coveiro estava na meia-idade, com cabelos grisalhos, penteados para o lado e com um bigode a escovinha. Todo sujo, possuía óculos meia-lua, empoleirados em um nariz torto, quebrado há tantas luas que ele já nem se lembrava mais. Ele usava um terno escuro, mas, o paletó ele deixara fora da cova, para sujar menos, assim como a gravata. O que era surpreendente, era que o "corpo" não se encontrava em um caixão, como é comum. Se encontrava enrolado em um pano fino amarelado, com bordas douradas, e um monograma estampado em negro, com letras garrafais, e caligrafia impecável.

   Elfos espreitavam, sem o conhecimento do coveiro. Eles se entreolhavam, assustados. Nada de bom poderia partir dali, eles pensavam. Nada de bom pode vir de desenterrar alguém. Eram três ali; dois altos, fortes: um com cabelos escuros e cacheados e olhos vermelhos, e outro, com cabelos, também cacheados e ruivos, no entanto, e olhos verdes; havia uma mulher, também, de pele e cabelos escuros, lisos. Eles se entreolharam mais uma vez, não conseguiam acreditar; precisavam ter uma audiência, emergencial, com os soberanos. Saíram correndo, nas sombras, sem que o coveiro percebesse; ou que eles pensassem isto. O coveiro tudo vê. O rei, também, tudo vê e tudo sabe mas, precisa de olhos e ouvidos, espiões. Eles correram, então, pela floresta, nas sombras, mal respirando, para pouco ruído fazer.

   Ao amanhecer, eles chegaram na cidade. Ela nunca dorme, e sempre os espera, pacientemente. Os pássaros cantam e recitam poemas, inteligíveis aos homens. Nada no mundo poderia entender a felicidade da natureza. Mas, esta poderia vir a ser abalada, caso algo acontecesse, e todos sabiam exatamente o quê. No palácio, guardas os esperavam. As armaduras de todos eram simples espécimes de ternos, verdes e marrons, variando de indivíduo para indivíduo. Suas pernas e pés, possuíam grande mobilidade, para lutas que se mostrassem necessárias. Seus rostos eram desnudos, mas pareciam brilhar, tanto à luz do sol, quanto da lua. Ao andar, nas sombras, pareciam cintilar, para aqueles que estivessem prestando atenção suficiente. O palácio era construído em um baobá, uma árvore grande o suficiente para abrigar uma corte inteira. Eles caminharam de modo ligeiro, sem jamais perder a compostura. Eles nem precisaram se explicar aos guardas, que viram seus olhares, assustados e permitiram a passagem, sem lhes dirigir a palavra. O rei Oromë e a rainha Shal'yeh já os esperavam, temerosos. Os súditos lhes dirigiram os cumprimentos mais formais e pediram desculpas pelo incômodo, mas a audiência devia ser feita o mais cedo possível.

   O rei e a rainha eram de aparência gloriosa. Seus rostos eram severos, porém, bondosos. O rei possuía um cabelo branco, longo; o da rainha era cacheado, cor-de-mel e, também, longo. Eles perguntaram apenas: "o que há de errado, minhas crianças?"; com um sorriso que ainda se mantinha temeroso. Eles apenas responderam: "ele acordou". Seus sorrisos se apagaram como um lampião pelo vento. Eles precisaram de um momento para despertar do choque. Seus semblantes ficaram sombrios e tristes. Todas as luzes que ali haviam, pareciam ter se apagado por completo. Suas almas ficaram pesarosas. O rei desmaiou, sem mais delongas.

   Quando ele acordou, estava em seus aposentos, deitado em sua rede. Via a luz da lua, já alta no céu. A clarabóia foi construída a seu pedido. Olhou para fora de sua rede, ao chão, e viu sua esposa, ali com os três espiões da manhã. Eles conversavam e sorriam, como se nada houvesse de errado. Então, eles olharam para cima e perceberam a presença de seu rei, já desperto. Se levantaram e prestaram reverências. Com um salto incrível, o rei desceu ao chão. A rainha pulou em um abraço caloroso, e terrivelmente assustado. Os súditos não sabiam o que havia de errado, mas já estavam assustados. O rei já tinha passado do susto inicial e, assim, decidiu lhes perguntar se sabiam o que estava acontecendo. Eles, sombriamente, responderam que não. Seus olhos, entristecidos, olhavam para o chão, envergonhados. Ninguém sabia exatamente o que se sucedia, além do rei. Ele era o único que sabia da real situação. Para todos os efeitos, um grande mal acordava, naquele instante. O mundo não poderia sobreviver àquilo. Sobrevivera uma vez, por meio da interferência da família real. Mas, estes haviam perecido há tanto...

   O rei, então, instruiu que nada daquilo escapasse. Nem mesmo sua reação. Ele pediu, gentilmente, que todas as informações fossem guardadas com suas vidas. Ele estalou os dedos e as janelas se fecharam, enquanto que as tochas se acenderam, em luzes que variavam entre verde, azul e violeta, criando uma atmosfera de suspense. Não foi intencional, já que estas eram as cores do brasão da família real. Então, o rei começou a história, que lhe foi contada por meio de uma carta, escrita por seu bisavô, o único sobrevivente do massacre de Baskerville:

   "Aconteceu há tanto tempo, que já nem me lembro direito. O mundo era jovem, assim como nosso povo. Eu era meramente uma criança, quando aconteceu. Meus pais eram o rei e a rainha, assim como hoje eu o sou. Mamãe era a diretora, enquanto que meus irmãos e irmãs eram professores, do Conservatório de Magia. Eles ensinavam os jovens como aumentar o potencial místico. Não sabíamos como nem o porquê, mas, os jovens começaram a sumir. De repente, restavam poucos, entre os quais nenhum dos melhores estava. Estes, haviam sumido primeiro. Depois, os de nível mediano. Então, até os mais fracos estavam desaparecendo. Mamãe suspeitou logo de início, quando seus protegidos desapareceram. Ela foi se aconselhar com papai. Ele sugeriu que fosse feita uma procura por todo o reino. Alertou os magistrados de outras cidades que procurassem. O magistrado responsável pela capital, onde habitávamos, detinha poderes políticos superiores aos outros, então, ficou sendo responsável por toda a operação. Ele reportava diretamente ao meu pai, que procurava por meio de um mapa. O ritual era capaz de achar o espírito de qualquer um. Mas, estes alunos eram impossíveis de serem achados. Nada neste mundo, ou no outro, os achava. Meu pai começou a suspeitar de que estivessem mortos mas, nada pudera ser concluído. Quem sabe eles não estavam fora do alcance da magia? Nada poderia determiná-lo, com certeza. Quando todos os alunos do Conservatório da capital desapareceram, houve a necessidade de fechá-lo. Depois de meses, assim, os alunos foram encontrados mortos. Não sei exatamente onde, mas a cidade inteira ficou alarmada. Mamãe ficou extremamente abatida. Entrou em depressão profunda. Meu pai já não sabia mais como consolá-la. Percebemos, então, que um grande mal assolava o reino. Minha mãe tinha sido paralisada por tal.

   Um dia, um jovem se apresentou a meu pai, na corte. Nada de bom poderia vir a partir disto, todos sabíamos. Ele se apresentou como um mal. O mal mais antigo de todos. Aquele que controlaria tudo e, também, todos os seres, vivos ou mortos. Ele se apresentara como Kränken, filho das sombras. Meu pai não teve dúvidas. Assim que Kränken adentrou no ambiente, uma grande sombra se mostrou nos corações de todos ali presentes. Minha mãe, que se mantinha em repouso em seus aposentos, começou a gritar, desesperadamente, como se uma faca estivesse apunhalando seu coração. Meu pai, que não era bobo, lançou, secretamente, um feitiço, em baixo tom, para que Kränken adormecesse, cuidadosamente, por um dia inteiro, todas as 24 horas. Neste meio tempo, meus pais se reuniram com meus irmãos e irmãs, para discutir o que fazer. Houveram muitas ideias, mas, nenhuma parecia boa o suficiente. Minha mãe se recordou do Grimório, um livro de magia, escrito através das eras, guardado pela família real. Meu pai o buscou, através do espelho, em que guardávamos todos os tesouros dos elfos, como por exemplo: as joias de Arikamedur, as faixas de Cytorak, os livros de Amidamaru, entre outros. O último feitiço, era justo o que precisávamos. Eu não sabia, mas ele necessitava de 5 sacrifícios reais. O sangue real era diferente dos outros, possuíam grimo-klarius em maior concentração. Não havia como utilizarmos aquele feitiço sem que toda a minha família fosse dizimada. Felizmente, eu era o quarto filho e, acima de tudo, não poderia usar minha magia, que ainda era fraca demais.

   Quando Kränken acordou, não se lembrava de nada. Para ele, não havia passado um segundo qualquer. Os feitiços de morte e destruição que meu pai utilizara, nenhum efeito tivera. Meu pai, antes de mais nada, o perguntou, qual era seu objetivo. Ele, então, sorriu e perguntou se meu pai gostaria, realmente, de saber das suas origens. Meu pai, surpreso, fez que sim. Kränken possuía um aspecto belíssimo. Parecia elfo, em todas as feições, mas, não tinha isso no coração, oco, sem vida e enegrecido. Seus olhos, negros como o espaço, não demonstravam emoção alguma, se não pura e simples vaidade. Ele começou, com sua voz grave e serena, discorrendo sobre a vida:

 - Como bem é sabido, o mundo onde vivemos foi criado a partir da Luz. Esta viu necessária uma diversão: criou, então, a vida. A Luz era gêmea da Sombra, que vivia em lado oposto do caos. A Sombra a tudo engolia, inclusive o que a criação. Tudo, perto da Sombra, deixava de existir. O tempo descontinuava e o espaço, se execrava. A Luz criou dois tipos de seres, os místicos, que poderiam brandir habilidades da Luz, e os práticos, que não naturalmente possuiriam tal aptidão, sendo seu dever, na verdade, administrar os místicos, em um mundo que eles ainda não bem entendiam, resolvendo problemas de parte social, que não poderiam ser resolvidos por meio de manipulação da matéria e tudo o mais. A diferença entre todos estes era a existência dos grimo-klarius, substância que se encontrava no sangue, conectando os místicos à Luz. Os práticos, então, sentiram inveja. É natural querer poder, se é que me entendem. Eu mesmo quero. Os práticos, assim, se uniram, para poder controlar os místicos. À primeira revolta, eles perderam, e foram exilados longe das florestas, onde a magia não chegava e a vida era difícil de ser contornada. Contrariando todas as expectativas, eles prosperaram. Formaram aglomerados, chamados de cidades, onde predominava o domínio daquele que possuía mais coisas. Se eles não podiam medir sua força em magia, o fariam possuindo coisas, que é bem mais simples. Então, decidiram fazer outra revolta mas, desta vez, não para dominar a magia e sim para acabar com ela. Eles não conseguiam aprender magia naturalmente. Todavia, poderiam facilmente dominar rituais de invocação. Eles descobriram, assim, em um Grimório, o feitiço que poderia "controlar" a Sombra. Eles estavam equivocados. A Sombra jamais poderia ser controlada. Eu sou o oposto da Luz. Ela é a vida, e eu a morte. Eu tomo aquilo que quero e preciso. Tudo termina comigo. Até o tempo, que sempre lhes pareceu imune aos meus efeitos. Ele é meu servo e faz aquilo que eu mandar, sem mais, nem menos. Eu apareci em uma forma monstruosa. Eu morei por eras nos oceanos enquanto me fortalecia. Assim, criei o mito dos homens da criatura marinha que de tudo se alimentava. Eu vi, então, nas florestas, a comunidade de místicos que florescia. Eu vi que, ali, tudo era bom. Vi estudantes de magia, se fortalecendo cada vez mais. Comecei a caçá-los, de forma que absorvi suas vidas e essências. Eles me pareceram cada vez mais apetitosos. Logo que eu absorvi todos os alunos do Conservatório, percebi que não precisava mais deles. Sendo assim, minha forma se modificou, neste corpo que agora vos fala.

   Tendo dito isso, não restava dúvidas. Ele era o mal absoluto. Não havia possibilidade de ele não ser. Sua mera presença os causava medo e depressão. Sinto que seu aspecto monstruoso fora conhecido por gente demais. Os práticos não tinham ideia do que estava acontecendo. Eles poderiam ter evitado, mas desconheciam tudo. Seus ancestrais fizeram questão de que eles desconhecessem o mundo dos místicos. Eles fizeram tudo virar lenda e, de lenda, virar apenas um sonho, desejado e distante. Minha família estava em formação, sem que ele percebesse. Os cinco já tinham desenhado o círculo no chão, aquele que levaria a derrota do Kränken. O feitiço já era murmurado e, enquanto ele terminava a história, também, concluído. Ele não percebera, mas, tinha sido derrotado por sua própria vaidade.

   Os cinco foram condenados a morte definitiva. O Kränken foi derrotado e preso à condição de uma criatura disforme; uma massa cinzenta, que ordenei ser enrolado em panos brancos e selado, com meu próprio poder, para todo o sempre. Enquanto eu vivesse, pelo menos, ele não poderia ser liberto. Eu vivi muito, até. Felizmente, durante meu reinado, tudo foi muito próspero. O Kränken foi enterrado dentro da floresta, onde meu poder e o de meus descendentes se mantém absoluto."

   O rei contou que a história virou lenda e que a lenda virou sonho. Dos práticos, neste caso; hoje em dia, chamados de humanos. Eles ainda sentiam muita inveja das habilidades especiais dos místicos; chamados de elfos, hoje em dia. O rei sentiu muita tristeza e pediu que não contassem a ninguém o que aconteceria: a provável e definitiva destruição do mundo como todos conhecem. Não havia nada que pudesse ser feito. O rei sentia um pesar muito grande crescer no coração. Sua alma se sentia inquieta. Não obstante, o rei ainda sentia que a culpa era sua, dos seus pais e de toda a linhagem real que não tinha matado o Kränken, quando houve a chance. Ele sentia que poderia ser feito, mas não sabia como.

   Muito longe dali, o homem com bigode a escovinha examinava um livro antigo. Supunha ser um Grimório. Mas, por falta de aptidões naturais, a concentração devia ser perfeita. Ele conseguiu quebrar o primeiro lacre, com bastante dificuldade. O pano se desenrolou com dificuldade, mostrando a massa disforme. O homem caiu, desmaiado. Uma mulher, então, apareceu nas sombras. Suas orelhas pontudas mostraram sua origem. Suas mãos estavam repletas de anéis, com todo tipo de joias, de diversas cores. Ela tocou na massa disforme, que começou a pulsar, como se houvesse um coração ali presente. A mulher sorriu, começando a aninhar a massa. Ela se abaixou e deu um beijo na massa que, lentamente, começou a tomar a forma do Kränken. A mulher se deitou e abraçou o homem que se formava. Ela deu um beijo em seus lábios, apaixonada. Ele não retribuiu. Os olhos de ambos brilharam intensamente. Ela, por amor. Ele, por viver novamente.

   Seu plano poderia começar novamente. Ele não poderia estar mais feliz. Um sorriso de gato estampava seu rosto de orelha a orelha. Nos seus planos, nada poderia dar errado, desta vez. A mulher que o devolveu a vida se chamava Melanie. Ela o conheceu como um salvador, na última vez que esteve vivo. Ele a tinha salvo da morte. Não era tão mal, afinal; ou, era apenas isto que ele quisera que ela pensasse. Ela não se cansava de abraçá-lo e fazer suas vontades. Tudo parecia conspirar para que eles ficassem juntos, ou era somente isto que ela pensava. Tudo o que ele pensava era em como ela serviria ao seu único propósito: dominar a tudo e todos. Foi dito ao Kränken que o rei já estava sabendo do seu retorno. Ele não pareceu se abalar com a notícia. Ao contrário, pensa em como dominará este. Cuja família não era completa o suficiente para subjulgá-lo, como aconteceu da última vez. O homem de bigode a escovinha era inglês e, por isso mesmo, esperava que o Kränken pudesse vencer a Primeira Grande Guerra, em nome da sua coroa soberana. O Kränken não lhe deu atenção, e o pulverizou apenas com um estalar de dedos.

   Ele se cobriu em um capuz escuro, com bordas roxas. Nenhuma parte de seu corpo era visível. Apenas seus olhos, que brilhavam intensamente, em busca da morte e destruição. Ele se moveu por meio das sombras, rapidamente, junto a Melanie. Ela não entendia muito bem  o que acontecia, mas, decidiu acompanhar seu amor. Ela não sabia o que estava por vir. Tudo o mais seria necessário para sua vitória. Quando o Kränken chegou ao palácio, entrou rapidamente, sem parar pelos guardas. Eles, porém, nem perceberam. Ele passou por diversas portas procurando o rei, que ainda estava sentado, contando a história. Os três espiões saíram, rápidos, para não morrerem pela mão do Kränken. Ele se surpreendeu com a facilidade de resposta deles. Eles, então, desenharam um círculo de contenção. O Kränken riu, desesperadamente, como um maníaco. Os espiões ficaram parados, esperando mais comandos do rei, que ainda estava em estado de choque. Melanie apareceu, de repente, surpreendendo a todos, e lançou um raio, em direção ao rei, que desviou e atacou. Melanie faleceu instantaneamente. O Kränken se valeu de sua alma, que o fortaleceu e permitiu escapar do círculo, prendendo todos e cada um dos presentes ali, naquele cômodo, em um círculo de detenção. Todos estavam sob seu controle. Que momento feliz!

   Matou todos ali presentes, com uma palavra, apenas. "Korth'ie!" Nenhum dos presentes, sentiu a morte vir. Ele era a morte, nem mais, nem menos. Quando o rei veio a falecer, o espírito dele foi de encontro ao Kränken, que o recebeu de portas abertas, absorvendo-o. Nada neste mundo, nem no outro, poderia detê-lo. O Kränken recebeu todo o poder místico das seis pessoas ali presentes, inclusive o poder da família real, que veio a acabar ali, no rei e na rainha, que nem deixaram herdeiros. O Kränken era a família real, agora. Nada poderia ser mais poderoso que isto. Nada poderia ser mais forte do que gerações de elfos, cujo poder estava incutido no rei, descendente direto do primeiro elfo.

   Dali, o Kränken partiu para o domínio do mundo como o conhecemos. Nada poderia impedí-lo. A vitória soava tão doce. Nada poderia ser tão bom quanto vencer. Ele retirou seu capuz. Não precisava mais se esconder nas sombras. Ele era o mestre supremo sobre todo o mundo místico. Ele saiu pelas portas do palácio, enquanto matava cada guarda que se opunha a sua presença. Dali em diante, outros elfos decidiram se submeter a ele. O Kränken chamou sua horda. Um horror jamais visto se alastrava. Em cada cidade do reino, um exército se erguia a partir dos mortos. As cidades queimavam, em agonia plena e absoluta. Nada poderia deter o homem, filho da Sombra, que agora controlava a Luz. O medo que se seguia era de magnitude tal que ninguém conseguia mais ver os olhos do Kränken. Todos que o faziam, eram levados à pura loucura. Começavam a murmurar e escrever coisas inteligíveis, por todos os lugares. Os prédios, antes árvores belas e frondosas; naquele momento, se encontravam caídos, arranhados, queimados. Os animais decretaram fuga em massa. Nada poderia sobreviver aos olhos do Kränken. Este, viria a dominar um espaço vazio, sem vida, sem sofrimento; sem sentimento algum, na verdade. Este, conseguiu transformar a floresta, palco da civilização élfica, em pântanos, cheios de mortos e monstros, a seu domínio, que incutiria medo e terror nos seres humanos, que ali, jamais gostariam de entrar novamente.

   Este relato é e sempre será o definitivo, com relação ao mestre. Ele a tudo domina. A vida e a morte, de nada são para ele. Ele é a vida, a morte, a Luz e a Sombra. Não se deixem enganar. Ele dominou o mundo, através dos místicos. Os práticos ainda devem perceber o que o mestre quer. O mestre não pode viver, a não ser que domine tudo e todos. Se a existência dos místicos viesse a ser descoberta pelos práticos, seu mundo entraria em colapso. Os práticos só querem os místicos com propósitos belicosos. A vida é menos do que parece ser, sob a perspectiva mínima de um não-usuário de magia. Eles não sentem conexões entre si mesmos, os outros e o universo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Minhas [des]ocupações mais valorosas...